Ignácio de Loyola Brandão - A sexta-feira da vergonha

Menores de 100 anos deveriam ter sido poupados da reunião do dia 22 de abril

O Estado de S. Paulo

Quando crianças, os adultos nos mandavam para fora da sala, porque não devíamos ouvir conversa de gente grande. A expressão era: tem gente descalça.

Pois a reunião de 22 de abril dos ministros brasileiros devia ter sido poupada a menores de 100 anos. Jamais vi tanta semvergonhice junta, tanta grossura exposta, conversa de boteco, total descalabro.

Se houve a Noite de São Bartolomeu, se houve o Baile da Ilha Fiscal, também aconteceu a Farra dos Guardanapos, houve igualmente a Sexta-Feira dos Sem-Vergonhas. Ali só faltaram Waldemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, medalhas de ouro das indecências.

Mário Souto Maior, folclorista pernambucano da mesma estirpe de Câmara Cascudo, celebrado até por Gilberto Freyre, poderia processar o governo por direitos autorais, uma vez que todos os palavrões constantes de seu ótimo Dicionário do Palavrão e Termos Afins (tenho a edição da editora Guararapes, do Recife, lançada em 1980) foram ditos e repetidos pelo presidente. Desde o usual, sonoro, FDP ao modesto e quase ignorado prexeca, órgão sexual feminino em Goiás.

Souto Maior definiria aquele bando de ministros (porque é um bando, aglomerado, quadrilha, gangue) como Filhos-de-Guarda Noturno, para não dizer FDP, uma vez que, segundo Jan, filho de Mário, o pai nunca disse um palavrão.

Difícil escrever sobre palavrões sem poder nomeá-los explicitamente para não parecer mal-educado.

O que acharam as mães - se é que eles as têm -, filhas, tias, avós, mulheres e irmãs daquela máfia de desclassificados? Falta de pu- dor, diriam, de compostura, respeito, de vergonha na cara, pura grosseria, achincalhe, rusticidade, enfim, a maior alarvaria, se me entendem.

Enfim, Mário Souto Maior definiria aquele conjunto de ministros como um bando de cheira fundo, que ele definia como "chaleira, capacho, pessoa sem personalidade". O sinônimo é pior: "Cheira-rabo". Para não dizer outra coisa.

É o que se viu. Achei curioso é que nenhum diretor, gerente, caixa, funcionário do Banco do Brasil se preocupou com o desclassificado Posto Ipiranga da Economia dizer que o BB é puro estrume.

O Supremo Tribunal Federal então fez como se não fosse com ele. Todos aceitaram serem chamados de vagabundos. O que há minha gente? Todo mundo dopado?

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