JPorfiro

Jose porfiro · @JPorfiro

8th Jan 2013 from Twitlonger

É O CAPITALISMO, ESTÚPIDO!
por Luiz Gonzaga Belluzzo

Enquanto falam das virtudes dos mercados, os negócios do capitalismo realizam suas proezas, entre vigores e sobressaltos

VALOR ECONÔMICO, 08-01-203

Antes da Grande Recessão iniciada em 2007, a economia global viveu as três décadas da Grande Moderação. Iniciada em meados dos anos 80, depois do trauma de juros de Paul Volcker, a Grande Moderação só foi interrompida por raros e passageiros episódios recessivos nas economias centrais, não obstante cravejada por severas crises cambiais e bancárias na periferia. Em sua evolução, o "novo regime de crescimento" não só impôs a liberalização das contas de capital à maioria dos países ditos emergentes, como também estimulou a desregulamentação financeira nas economias centrais.

No mesmo movimento, a Grande Moderação impulsionou a metástase produtiva da grande empresa americana, europeia e japonesa para a Ásia dos pequenos tigres e novos dragões. O Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão publicou o White Paper on International Economy and Trade, onde registra a migração das empresas japonesas para os vizinhos, particularmente China, depois que o Acordo do Plaza impôs em 1985 a valorização do iene.

O estudo cuida de mostrar e quantificar as transformações ocorridas na divisão internacional do trabalho desde 1990. Constitui-se uma mancha manufatureira, demandante de recursos naturais, que pulsa em torno da China, reintegrada ao circuito capitalista desde as reformas do final dos anos 70. A China e seus parceiros combinaram mão de obra barata, câmbio real competitivo, taxas elevadas de formação bruta de capital e ganhos de escala e escopo com a rápida incorporação nas empresas locais dos avanços tecnológicos oferecidos pelo investimento direto estrangeiro. Hoje são notáveis os programas chineses de estímulo à constituição de sistemas de P&D públicos e privados.
-----
As desvalorizações asiáticas deram fôlego à euforia consumista americana amparada no crédito fácil
-----
A divisão do trabalho entre as economias asiáticas e entre elas e o resto do mundo transformou a região em uma formidável produtora e processadora de peças e componentes baratos com impacto na exportação de bens finais para as demais regiões. Os dados do estudo patrocinado pelo ministério japonês revelam que em 2010 a China é importadora líquida de bens intermediários e de bens de capital do Japão e dos países da Asean e exportadora líquida de bens finais (consumo e equipamentos) para os países do Nafta e da União Europeia. As exportações chinesas para o Nafta são superiores às exportações totais dos 27 países da União Europeia para a mesma região.

A estratégia chinesa inclui um forte controle e direcionamento do crédito, cuja oferta está concentrada nos cinco grandes bancos públicos. Depois da crise de 2007/08, a relação crédito/PIB avançou de 200% para 250%. Os principais tomadores foram as empresas públicas, privadas e semi-públicas dedicadas à execução dos grandes projetos de infraestrutura, sobretudo ferrovias de alta velocidade e infraestrutura urbana com atenção especial para o transporte coletivo.

Na escalada produtivista asiática, preços de exportação das manufaturas caíram substancialmente entre 1995 e 2007 e acentuaram a queda depois da crise financeira. Esse declínio continuado dos preços das manufaturas teve grande impacto no comportamento da inflação global. O regime de metas de inflação (ou coisa assemelhada, como é o caso dos EUA) foi condecorado, em muitos países, com as honrarias que celebram a vitória contra o dragão da maldade. No regime de metas, dizem os entendidos, o propósito é definir a regra ótima de reação do banco central. Trata-se da regra que, ao longo do tempo, fortalece a confiança dos mercados no manejo da taxa de juro de curto prazo entregue à responsabilidade dos BCs. Ao adequar suas decisões às expectativas (racionais) dos formadores de preços e dos detentores de riqueza, os bancos centrais tornam mais suave o processo de manutenção da estabilidade, reduzindo a amplitude das flutuações da renda e do emprego.

Para os adeptos do regime de metas, nada de novo: a integração financeira e produtiva das economias deixou tudo como dantes. Negam relevância à integração dos mercados de bens e serviços, de ativos financeiros e de fatores de produção sobre as regras de atuação dos bancos centrais.

Na contramão, Cláudio Bório, economista do BIS, sugere que "os fatores globais se tornaram mais importantes do que os fatores domésticos". Bório se refere às transformações já mencionadas nas condições da oferta na economia globalizada. A combinação entre baixa inflação e excessiva elasticidade do sistema financeiro global promoveu a intensificação dos movimentos de capitais de portfólio e acentuou o caráter pró-cíclico da oferta de crédito nos "desenvolvidos consumidores".

Depois da crise asiática de 1997-98, à exceção da China, os países mais afetados promoveram desvalorizações cambiais que contribuíram para deprimir os preços dos manufaturados. As desvalorizações asiáticas deram fôlego à euforia consumista americana amparada no crédito fácil, enquanto estagnavam os rendimentos dos assalariados. Daí a fragilização dos balanços das famílias e dos países envolvidos na trama dos assim chamados desequilíbrios globais.

As Grandes Transformações foram operadas nos subterrâneos da Grande Moderação. A velha toupeira do capitalismo e de seus negócios não só redefiniu em poucos anos a distribuição espacial da produção, do comércio e dos fluxos de capitais, como cavou os buracos em que iriam soçobrar as crendices sobre a eficiência dos mercados autorregulados no provimento de informações para os agentes racionais e otimizadores.

Os modelitos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral (DSGE) deixaram escapar, sob sua dinâmica sem movimento, o ronco rouco das transformações e os ruídos que anunciavam a crise financeira e de crédito.

Bobearam, diz o economista David Colander, porque os modelitos, encantados com a fábula da otimização intertemporal do agente representativo, não contemplam a diversidade de protagonistas envolvidos na dura concorrência pelo dinheiro como objeto dos negócios e nem o crédito e a finança como instrumentos e formas da acumulação de capital. Enquanto falam das virtudes dos mercados, os negócios do capitalismo realizam suas proezas, entre vigores e sobressaltos.

Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras. Em 2001, foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists.


######################################

PARA 2013, GOVERNO CONTA COM PIB MAIOR E CONCESSÕES
por Thiago Resende e Eduardo Campos | De Brasília
Decisão de usar Fundo Soberano foi de três ministros
Valor Econômico - 07/01/2013
http://www.twitlonger.com/show/kktk06

##################################
#################################

OS BANQUEIROS FORAM OS CULPADOS?
por Raghuram Rajan

Ao prosseguirmos com o processo de reforma, devemos ter em mente que a única coisa pior do que combater a guerra que passou é combater a guerra errada que passou

VALOR ECONÔMICO, 08-01-2013

Poucas áreas da atividade econômica nos EUA estão mais politizadas do que a do financiamento habitacional. No entanto, a esquerda intelectual fez grandes esforços para absolver as agências regulamentadoras, o papel do governo na provisão de financiamentos e agências como a Fannie Mae e Freddie Mac de qualquer responsabilidade sobre o boom imobiliário e seu subsequente colapso.

A lógica é clara: se essas autoridades, instituições e políticas fossem responsabilizadas, a agenda de reformas teria de mudar. Será que o papel institucional do governo contribui para o mau comportamento de agentes privados? Será possível confiar que as agências regulamentadoras implementarão a dosagem apropriada entre estabilidade financeira e um papel institucional que goze de ampla sustentação política? Com efeito, podem os bancos centrais ser verdadeiramente independentes? Em suma, a aceitação de um papel maior do governo no sentido de domar os mercados daria lugar à indagação sobre se esse papel pode às vezes ser parte do problema.

Foi fácil, para a esquerda, dominar o debate, em parte porque a tentativa da direita intelectual de lançar a culpa da crise sobre o governo é implausível. É muito mais defensável e correto argumentar que todos - banqueiros, famílias, agências fiscalizadoras e políticos - contribuíram para o (e levaram crédito pelo) boom enquanto durou, e então passaram a acusar-se mutuamente, depois que o castelo desmoronou.

O estudo sugere que deveríamos ir além de culpar os bancos. Devemos reconhecer que, devido ao desejo de ampliar a posse de casas próprias, destruíram freios e contrapesos. Famílias, políticos e regulamentadores também foram cúmplices

Mas a insensibilidade política dos banqueiros na esteira da crise - primeiro beneficiando-se de socorro público e, depois, embolsando enormes gratificações, como se nada tivesse mudado - garantiu que lhes fosse atribuída a maior parte da culpa - e todos os demais assumiram a postura de vítimas involuntárias. Em consequência, a reação dos responsáveis por políticas públicas tem sido dominada pela narrativa: "a culpa foi dos banqueiros". O risco é que essa abordagem seja incompleta - e, por isso, pouco eficaz.

Assim, é animador ver um cuidadoso estudo econométrico contradizer uma afirmação de Paul Krugman, possivelmente o mais influente economista de esquerda nos EUA, de que o Community Reinvestment Act (CRA, em inglês) "foi irrelevante para o boom do mercado de financiamento habitacional de crédito incerto". A legislação CRA faz com que as agências financeiras federais incentivem as instituições por elas regulamentadas a ajudarem as comunidades onde têm jurisdição institucional a atender suas necessidades de crédito, respeitando, simultaneamente, padrões "seguros". Na prática, as agências regulamentadoras comparam o volume dos empréstimos destinados a áreas beneficiadas pelo CRA - regiões pobres com renda mediana inferior a 80% da renda mediana da comunidade local - bem como a mutuários de baixa renda e minorias em áreas não contempladas pelo CRA para verificar o cumprimento dessa legislação.

A esquerda rejeitou todas as alegações de que o CRA desempenhou um papel no boom imobiliário, citando o fato de que a lei foi promulgada em 1977, ao passo que o boom no mercado subprime ocorreu no início de 2000. Mas isso ignora a possibilidade de que as agências competentes podem ter começado a impor o CRA rigorosamente somente mais tarde.


Para fazer cumprir o estatuto, as agências fiscalizam periodicamente os bancos para verificar o cumprimento do CRA. As conclusões são claras. Em comparação com os bancos não alvo de fiscalização, o volume de empréstimos de bancos nos seis trimestres "em torno" de uma fiscalização de cumprimento do CRA foi 5% maior, e esses empréstimos exibem uma propensão 15% maior de incidência da inadimplência um ano após terem sido originados. Em outras palavras, os bancos submetidos à fiscalização emprestam mais e concedem empréstimos de maior risco.

Bons estudos econométricos analisam efeitos secundários para convencer seus leitores de que o principal efeito é o que efetivamente é. A principal ferramenta à disposição da fiscalização para assegurar a conformidade ao CRA era sua autoridade para rejeitar pedidos de abertura de novas filiais ou fusões por bancos não cumpridores do CRA. Durante o boom do subprime, os grandes bancos mostraram-se mais propensos a querer expandir, e, assim, tinham maior interesse em cumprir a legislação. O estudo conclui que as concessões de empréstimos dos bancos de maior porte estão relacionados com a fiscalização do cumprimento da CRA.

O estudo conclui que no auge do frenesi da concessão de empréstimos (2004-2006), os bancos emprestaram ainda mais, em reação a uma fiscalização de conformidade e que os desdobramentos posteriores foram ainda piores. Os autores especulam que a maior facilidade de securitização dos empréstimos pode ter tornado os arriscados empréstimos parecerem menos onerosos. Por fim, como todos os bons estudos, esse explica por que a análise mais cuidadosa dos autores produziu resultados distintos dos estudos anteriores.

O estudo foca o impacto diferencial do CRA sobre os bancos submetidos à fiscalização e aqueles não submetidos. Na verdade, provavelmente todos os bancos aumentaram seus empréstimos, mas o estudo não pode mensurar esse aumento.

Se os economistas ficassem esperando as conclusões de estudos cuidadosos antes de oferecer opiniões sobre política econômica, nunca teriam nada de oportuno a dizer. E, sem dúvida, é melhor ter alguma intuição econômica orientando as políticas de governo do que nenhuma.

Mas existe o perigo de que a opinião pública assuma especulações como verdade, apenas devido às credenciais do especulador. Estudos como esses são úteis para restabelecer a verdade.

Mais amplamente, o estudo sugere que deveríamos ir além de culpar os bancos. Devemos reconhecer que, devido ao desejo de ampliar a posse de casas próprias, destruíram-se freios e contrapesos. Famílias, políticos e agências regulamentadoras também foram cúmplices. Ao prosseguirmos com o processo de reforma, devemos ter em mente que a única coisa pior do que combater a guerra que passou é combater a guerra errada que passou. (Tradução de Sergio Blum).

Raghuram Rajan foi economista chefe do FMI, é professor de Finanças na School of Business, da Universidade de Chicago e principal conselheiro econômico do governo da Índia. É autor de Fault Lines: How Hidden Fractures Still Threaten the World Economy. Copyright: Project Syndicate, 2012.



DID THE BANKERS DO IT?
por Raghuram Rajan - Dec. 21, 2012
DELHI – Few areas of economic activity in the United States are more politicized than housing finance. Yet the intellectual left has gone to great lengths to absolve regulators, government lending mandates, and agencies like Fannie Mae and Freddie Mac of any responsibility for the housing boom and the subsequent bust.
The rationale is clear: if these officials, institutions, and policies were held accountable, the reform agenda would necessarily shift from regulating greedy bankers and their bonuses to asking broader questions. Might government mandates contribute to bad behavior by private players? Can regulators be trusted to make appropriate trade-offs between financial stability and mandates that have wide political support? Indeed, can central bankers be truly independent? Unquestioning acceptance of a greater government role in taming markets would, in short, give way to asking whether that role can sometimes be part of the problem.
CommentsView/Create comment on this paragraphThe left has had an easy task in dominating the debate, partly because the intellectual right’s attempt to place all the blame for the crisis on government is thoroughly implausible. It is far more defensible and correct to argue that everyone – bankers, households, regulators, and politicians – contributed to (and took credit for) the boom while it lasted, only to point fingers at one another when it collapsed.
CommentsView/Create comment on this paragraphBut bankers’ political tin ear in the aftermath of the crisis – first taking public bailouts and then paying themselves huge bonuses as if nothing had changed – ensured that they got the lion’s share of the blame, with everyone else willing to pose as their unwitting victims. As a result, the public-policy response has been dominated by “the bankers did it” narrative. The risk is that this approach is incomplete – and thus unlikely to be effective.
CommentsView/Create comment on this paragraphIt is therefore refreshing to see a careful econometric study take on an assertion by Paul Krugman, perhaps the most influential left-leaning US economist, that “the Community Reinvestment Act of 1977 was irrelevant to the subprime boom.” The CRA instructs federal financial supervisory agencies to encourage the institutions that they regulate to help the communities in which they are chartered to meet their credit needs, while also conforming to “safe and sound” standards. In practice, regulators measure the volume of lending to CRA target tracts – poor areas with median income less than 80% of the median income of the local community – as well as to low-income and minority borrowers in non-CRA tracts to verify compliance with the Act.
CommentsView/Create comment on this paragraphThe left has dismissed any claim that the CRA played a role in the housing boom by pointing out that it was enacted in 1977, while the subprime boom played out in the early 2000’s. But this ignores the possibility that regulators may have started to enforce the CRA rigorously only later.
CommentsView/Create comment on this paragraphTo enforce the statute, regulators periodically examine banks for CRA compliance. To hone in on the “regulatory enforcement” effect, the recent study compares the behavior of banks that are undergoing examination (which takes place over several quarters) to that of banks that are not undergoing examination in a particular tract in a particular month.
CommentsView/Create comment on this paragraphThe findings are clear. Compared to banks that are not undergoing examination, the volume of loans by banks in the six quarters surrounding a CRA examination is 5% higher, and these loans are 15% more likely to be delinquent one year after origination. In other words, banks undergoing examination lend more and make riskier loans – and these findings are even more pronounced in CRA-eligible tracts.
CommentsView/Create comment on this paragraphGood econometric studies examine secondary effects to persuade readers that the main effect is what it is. Regulators’ primary tool to enforce compliance was their authority to reject non-CRA-compliant banks’ requests for new branches or mergers. During the subprime boom, large banks were more likely to want to expand, and thus had greater incentive to comply. The study finds that CRA lending by larger banks does indeed respond more to a CRA examination.
CommentsView/Create comment on this paragraphAt the height of the lending frenzy (2004-2006), the study finds that banks loaned even more in response to an examination, and that the outcomes were even worse. The authors speculate that easier loan securitization may have made risky CRA-compliant loans seem less costly. Finally, like all good studies, this one explains why the authors more careful analysis produces results that differ from those in previous studies.
CommentsView/Create comment on this paragraphBecause of the way it is structured, the study only suggests a lower bound on the effects of CRA compliance. It focuses on the differential impact of the CRA on banks undergoing examination and those not undergoing examination. In fact, all banks are likely to have upped their CRA-compliant lending. The study cannot measure this increase.
CommentsView/Create comment on this paragraphThere is room in economics for grand speculation – some part intuition, some part common sense, and some part ideology. If economists were to wait for careful studies before offering opinions about policy, we would never have anything timely to say. And it is certainly better to have some economic intuition guiding policy than none at all.
CommentsView/Create comment on this paragraphBut there is a danger that the public mistakes speculation for truth, only because of the speculator’s credentials and assertiveness. Studies like this one are useful in setting the record straight.
CommentsView/Create comment on this paragraphMore broadly, the study suggests that we should move beyond blaming the bankers. We must recognize that in the desire to broaden home ownership, essential checks and balances broke down. Households, politicians, and regulators were also complicit. As we go about the process of reform, we should bear in mind that the only thing worse than fighting the last war is fighting the wrong last war.

http://www.project-syndicate.org/commentary/why-blaming-bankers-for-the-crisis-is-bad-policy-by-raghuram-rajan

Reply · Report Post