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1st Nov 2012 from Twitlonger

A derrota de Serra e a renovação

Por Alberto Carlos Almeida | Para o Valor, de São Paulo

PT está obrigando o PSDB a se renovar, e vice-versa. O Brasil ganhará com isso

Valor, 01-11-2012

No dia 10 de agosto, publiquei nesta coluna um artigo cujo título era: "Serra é o favorito para perder". Nele, fiz a previsão, baseada em dados, de que Serra seria derrotado na eleição para prefeito. O argumento era simples e direto. Serra disputou a eleição como o candidato apoiado pelo prefeito Kassab. Como Kassab tinha uma avaliação muito ruim, a soma de "ótimo" e "bom" dele estava abaixo de 30% e a tendência seria de que não melhoraria, então seu candidato seria derrotado. Acabamos de ver em São Paulo uma eleição de mudança. O raciocínio do eleitor é simples: se o governo está ruim, então ele deve ser mudado; se o governo está bom, então deve ser mantido. Nada mais eloquente quanto a isso do que o fato de que, em toda a série de pesquisas do Datafolha simulando o segundo turno entre Haddad e Kassab, a partir do início de setembro, a vantagem do petista jamais se alterara, como não mudou a soma de "ótimo" e "bom" de Kassab.

Além disso, e também nesta coluna, publiquei um artigo em 23 de março, na antevéspera das prévias do PSDB, mostrando que Serra tinha um histórico de candidato ruim de voto, de candidato que tinha dificuldades para vencer. Mais do isso, nesse artigo chamei atenção para o erro que seria para o PSDB não renovar, não disputar a eleição paulistana com um nome novo. Foi inacreditável que os tucanos tenham escolhido alguém que acabara de perder uma eleição presidencial para uma candidata que nunca havia disputado um voto na vida. Nesse artigo chamei atenção para o fato de que, se o PSDB escolhesse Serra, estaria optando pelo lema de campanha "em time que está perdendo não se mexe". Foi exatamente o que aconteceu.

gráfico

O PSDB poderia ter sido bem mais competitivo na eleição de São Paulo. Bastaria que tivesse escolhido um nome desvinculado da administração de Kassab. Um candidato com esse perfil ficaria livre para criticar a prefeitura e se colocar como oposição. Fazer exatamente o que Haddad, o vitorioso, fez. Nomes com esse perfil não faltaram e se colocaram nas prévias do partido: José Aníbal e Ricardo Trípoli. Bruno Covas também poderia ter sido esse candidato de oposição, mas decidiu, conciliatoriamente, não concorrer às previas e apoiar Serra. O próprio resultado dessa consulta interna do partido já indicava as dificuldades que Serra enfrentaria. Ele venceu com pouco mais de 50%, o que revelou uma grande rejeição junto àqueles que, teoricamente, deveriam desejar ardentemente que fosse candidato.

O PSDB impediu a renovação, tanto agora como em 2010. Caso Aécio tivesse sido candidato a presidente naquela ocasião, agora seria um nome nacionalmente reconhecido e muito dificilmente haveria a especulação que hoje há sobre Eduardo Campos como possível candidato de oposição em 2014. A eleição em São Paulo teve o mesmo desfecho. Se José Aníbal ou Ricardo Trípoli tivesse sido o escolhido, mesmo derrotado, um deles abriria perspectivas futuras mais promissoras para o partido. Serra é um político em fim de carreira, ainda que se considere revigorado pela derrota.

Fernando Henrique e outros importantes líderes do PSDB declararam, após essa nova derrota de Serra, que o partido precisa de renovação. Levar a sério esse propósito implica não oferecer uma secretaria de Estado para Serra. É hora de o velho político se retirar do cenário. É hora de abrir espaço para outras figuras que esperam que a fila ande. Isso premiaria a lealdade política. É algo importante, porque Serra não é leal a Alckmin, como foi possível constatar na eleição municipal de 2008.

Considerando-se a fama de bem preparado, surpreendem os erros crassos cometidos por Serra em todas as eleições nas quais foi derrotado, em particular na última eleição presidencial. Naquela oportunidade, ele era o candidato de oposição a um governo muito bem avaliado. Tudo indicava que iria perder, inclusive os dados de pesquisas realizadas mais de um ano antes das eleições. Mesmo assim, quis ser candidato. Não fosse esse erro, ele seria hoje um importante ator político, seria reeleito governador de São Paulo e estaria ocupando o segundo cargo mais importante do Brasil. A propósito, Serra jamais será presidente.

As decisões erradas de Serra contrastam com as decisões corretas de Lula. A escolha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo não foi uma renovação em qualquer direção. Pelo contrário, Lula sabe que a cidade de São Paulo é conservadora. Por isso, sua indicação recaiu em um quadro político que se assemelhasse ao mundo tucano. Haddad é professor universitário, tem sólida formação acadêmica e foi ministro da Educação. Nada mais importante para os conservadores do que a educação: é graças a ela que as pessoas podem melhorar de vida pelo próprio mérito. Além disso, Haddad tinha o que mostrar como gestor público durante a campanha. A principal peça de comunicação da campanha petista não foi o bilhete único mensal nem a rede Hora Certa de consultas médicas, mas o próprio candidato.

Mais interessante ainda é como Lula escolhe seus objetivos políticos. Na eleição de 2010 o ex-presidente teve duas metas claras: eleger sua sucessora e aumentar o número de cadeiras do PT no Senado. Várias decisões de aliança abrindo mão de candidaturas a governos estaduais foram tomadas com a finalidade principal de conseguir maioria no Senado. Hoje, o PT tem a segunda maior bancada de senadores, em 2010 elegeu figuras de destaque em seus respectivos Estados, como Lindberg Farias no Rio de Janeiro, Gleisi Hoffman no Paraná, Walter Pinheiro na Bahia, José Pimentel no Ceará e Humberto Costa em Pernambuco. Agora em 2012, a prioridade foi vencer em São Paulo.

Política é relação de poder. Não existe na política a visão cristã de que o certo vence no final e o errado é derrotado. O motivo é simples: não há um lado certo ou errado; são apenas ideologias que estão em jogo. Não existe um Deus acima do bem e do mal que aponte que um lado é o correto e o outro é o errado. Por isso existem as eleições. E há as circunstâncias, que são de grande importância. Muito dificilmente um candidato ligado a Kassab venceria em 2012. Ainda mais, sendo esse candidato alguém como Serra, sem carisma e pouco agregador. O que Lula e seus liderados fizeram foi aproveitar as circunstâncias favoráveis a um candidato de oposição. É bem verdade que, em algum momento da campanha, o risco de o candidato do PT não ir para o segundo turno se tornou grande. Mas, como diz o ditado popular, quem não arrisca não petisca.

Lula sempre foi um tomador de risco. Para aqueles que prezam o empreendedorismo, cumpre reconhecer que, dos anos 1980 para cá, Lula vem sendo o maior empreendedor político do Brasil. A trajetória dele no mundo político se inicia como a maioria dos empreendedores. Lula não tinha nada a perder quando fez a transição do sindicalismo para a política. Não tinha um partido, fundou um e iniciou do zero. Foi por isso que pôde ser candidato a presidente três vezes consecutivas para só vencer na quarta tentativa. O PT ainda era um partido muito pequeno, com pouca competição interna. Agora que o PT é grande e em São Paulo há muitas estrelas, Lula decidiu assumir outro tipo de risco, o de indicar um candidato novato em eleições, um marinheiro de primeira viagem. Ele continua arriscando e empreendendo. Mudou a forma e o estilo, mas o conteúdo é o mesmo.

Depois de oito anos na Presidência, Lula passou a combinar essas características de personalidade com o enorme aprendizado político que teve. Hoje, o PT conta com Dilma cuidando do governo federal e Lula cuidando de conquistar mais espaço político para seu partido. É uma óbvia vantagem sobre seus adversários. Ainda mais quando Serra é visto como alguém eleitoralmente competitivo.

Caso o PSDB leve a sério as palavras de renovação pronunciadas esta semana por seus líderes, será bom para todo o sistema político, inclusive para o PT. Renovar hoje significa livrar-se de Serra, impedi-lo de ser candidato a qualquer cargo majoritário, o que inclui o Senado. É o PT que está obrigando o PSDB a se renovar. Por outro lado, uma eventual renovação do PSDB vai obrigar o PT também a se renovar ainda mais. O Brasil ganhará com isso.

Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, é autor de "A Cabeça do Brasileiro" e "O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo". E-mail: alberto.almeida@institutoanalise.com www.twitter.com/albertocalmeida


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Julgamento levou PT a se modernizar, diz Werneck Vianna

por Chico Santos | De Águas de Lindoia (MG)

Para cientista político, desempenho petista mostra que é possível avançar pelas vias institucionais

Valor Econômico - 25/10/2012

O processo do mensalão e as eleições municipais que terminam no domingo estão associados para demonstrar que "é possível avançar [na democracia social] através dos procedimentos democráticos institucionais" e denunciar que "não há nenhuma Muralha da China entre a democracia social e a democracia política". E, mesmo com membros da sua cúpula julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o PT deverá sair fortalecido das eleições municipais, em pleno processo de renovação de quadros de liderança.
São análises do sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor e pesquisador da PUC-Rio, que vê na emergência de nomes como o candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, e Marcio Pochmann, candidato em Campinas, a continuidade de um processo de renovação iniciado pelo próprio presidente de honra do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, ao indicar o nome de Dilma Rousseff para disputar, e vencer, sua sucessão na Presidência.
Nesta entrevista, concedida em um intervalo da sua participação no 36º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, em Águas de Lindoia (SP), Werneck Vianna aponta para uma disputa entre o PT e o tucano Aécio Neves pela Presidência em 2014, com remotas possibilidades de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) lançar-se como uma terceira via. No PT ele não crava se o nome será o da presidente Dilma ou do ex-presidente Lula, mas diz que ela quer a reeleição. A seguir, trechos da entrevista:
Valor: Como preservar a conquista que o senhor vê no julgamento da Ação Penal 470 [mensalão] que seria o surgimento de uma nova República, não mais sujeita ao poder da Administração do Estado?
Luiz Werneck Vianna: São dois processos: o julgamento da Ação Penal 470 e as eleições municipais. Praticamente encerrados os dois processos, saltam aos olhos as motivações e ações que levaram ao grande escândalo que o país viveu a partir das declarações do Roberto Jefferson denunciando a existência de uma conspiração contra as instituições republicanas. Enquanto isso, a sucessão municipal mostra, à saciedade, que é possível avançar através dos procedimentos democráticos institucionais. Talvez a melhor indicação disso ainda esteja por vir.
Valor: O resultado de São Paulo?
Vianna: A crer nas pesquisas, o [Fernando] Haddad ganha em São Paulo. Mesmo que não haja a vitória do Haddad, a votação do porte que ele terá, e que já teve no primeiro turno, denuncia como inepta a tentativa lá no começo da década de 2000, de se procurar se assenhorar dos controles da política por cima. A tentativa de controle das instituições pelo dinheiro e pelo poder, os desmandos que hoje estão em julgamento. Denuncia de maneira solar que não há nenhuma Muralha da China entre a democracia social e a democracia política.
Valor: A instituição, no caso o partido (PT) sobrevive a essa tentativa...
Vianna: Acho que não ficou ainda claro, mas o ponto é relevante. Dois processos: um que nos seus inícios foi formulado no sentido de partir da ação do poder administrativo e do poder do dinheiro pra se assenhorar do poder legislativo, com o pretexto, com a ideia implícita de que era para avançar mais no social. O que a sucessão municipal demonstra é que os avanços podem até ser mais profundos e amplos se eles forem percebidos por meio dos canais democráticos, pelas vias republicanas institucionais. O PT sai dessa sucessão muito fortalecido, embora houvesse sobre esse processo eleitoral a sombra do processo que tramitava no Supremo Tribunal Federal contra as lideranças partidárias, as lideranças do PT, que maquinaram essa tentativa de usurpação da vontade do poder soberano.
Sai a velha elite política e entra outra sob o impacto da Lei da Ficha Limpa e do julgamento da Ação Penal 470 no STF"
Valor: A quem veja nesse resultado que o Haddad está obtendo mais uma vitória pessoal do personagem Lula. Isso macularia de algum modo esse raciocínio que o senhor acaba de fazer?
Vianna: Não, não. Porque, inclusive, se nós olharmos bem esse processo que está ocorrendo, vários observadores já apontaram isso, traz uma mudança geracional.
Valor: Tem também o [candidato do PT] Marcio Pochmann em Campinas...
Vianna: Dois quadros muito interessantes... O Haddad e o Pochmann foram alçados a um protagonismo político inesperado. Evidentemente que são duas novas personalidades que irão atuar nesse jogo que não tem mais nada a ver com as velhas práticas de controle da vida sindical que levaram a essa confusão entre governo e sindicatos, porque os sindicatos foram inteiramente absorvidos e apareceu até, não sei se isso é propriamente verdadeiro, mas alguma coisa disso é, quase uma nova classe, uma caracterização do [sociólogo] Francisco de Oliveira, essas elites sindicais se apropriando de posições importantes no sistema de Estado. Nós lembramos aqui do Pochmann e do Haddad, mas essa pesquisa precisa ser feita em todo o país: o que vem de novo nessa sucessão municipal. Está saindo uma velha elite política e entrando outra, e essa outra entra sob o impacto de dois extraordinários eventos, o primeiro foi a Lei da Ficha Limpa e o segundo, o julgamento da Ação Penal 470, com condenação de praticamente todos os réus, principalmente as grandes lideranças políticas, do PT e do governo [passado].
Valor: A própria eleição em 2010 da presidente Dilma Rousseff, ela mesma uma nova liderança, já seria um embrião desse fenômeno que o senhor está apontando?
Vianna: Eu não quero estabelecer uma relação de causa e efeito, mas acho que alguma coisa na eleição dela já significava isso. O que é um pouco misterioso porque, perceba por favor, Dilma, Haddad e Pochmann foram escolhas pessoais do Lula. Como se ele estivesse com isso anunciando o começo de um novo ciclo. Isso precisa ser melhor apurado.
Valor: Mas os adversários podem dizer que se trata de uma esperteza de velha raposa...
Vianna: Certamente a esperteza da velha raposa está presente, mas o fato de essa esperteza ter como resultado a mudança no sentido de opção por quadros mais modernos, como Dilma, como Haddad e Pochmann, mostra que algo mudou. Eu não estou querendo com isso insinuar que o Lula tenha tido plena consciência desse movimento e de no que isso importa. A Dilma, por exemplo, ela não é uma mulher da política, é uma mulher da administração, da gestão. E aí, as marcas de racionalização que ela vem procurando trazer ficaram muito claras a esta altura de dois anos de governo. Então, o que eu digo é o seguinte: embora haja um tom muito otimista nas coisas que estou falando e analisando, acho que há sinais por dentro, no interior do PT, de que haverá um "aggiornamento" (palavra italiana que simbolizou a modernização da igreja no Concílio Vaticano 2º, na década de 1960) aí.
Valor: Ou seja, independentemente da intenção do Lula, ele introduziu o novo...
Vianna: E com nomes muito atentos à questão social, especialmente o Pochmann, o que mostra que o tema da democracia social pode avançar perfeitamente no limpo terreno republicano, denunciando a prática anterior. A percepção desses dois processos que eu mencionei, a Ação Penal 470 e as eleições municipais, é de que um movimento denuncia o erro do outro.
A emergência de Aécio e Eduardo realça temas regionais e mostra que vivemos numa Federação às vezes ocultada"
Valor: Extrapolando para fora do PT, como o senhor analisa a afirmação de nomes como o do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) nesse processo de renovação?
Vianna: É a consolidação dessa moderna ordem burguesa brasileira que faz com que a sociedade torne-se cada vez mais complexa e diferenciada. Além do mais, esse país, embora frequentemente oculte o fato, a significação do fato, é uma Federação. E o que nós estamos assistindo é a emergência de quadros com uma história muito regional. O Eduardo Campos em Pernambuco e o Aécio Neves em Minas. Os dois, herdeiros dinásticos de duas casas governantes, a de [Miguel] Arraes e a de Tancredo Neves. O que mostra que as raízes fundas da expressão atual política deles. Os temas regionais aparecem com eles muito fortemente.
Valor: Como o senhor acha que esse quadro que se desenha agora irá reproduzir-se na eleição presidencial de 2014?
Vianna: Isso vai depender muito, e eu não sou o primeiro a dizer, da situação econômica do país. Com um andamento favorável na economia, as possibilidades do quadro posto [o PT no poder] permanecer são muito altas. Aécio será candidato. Candidato em 2014 com vistas a 2018. Para consolidar uma posição nacional. Ele precisa sair de Minas. O Eduardo Campos, por sua vez, as circunstâncias econômicas lhe sendo desfavoráveis, isto é, crescimento da economia, ele vai se alinhar à coalizão majoritária. Em que posição? Terá forças para deslocar Michel Temer da vice-presidência? Muito difícil porque a essa altura o PMDB já deu seguras manifestações de que a âncora verdadeira dessa política é ele. Então, o Eduardo Campos, a meu ver, não terá acesso a vice. O que ele vai fazer? Não sei. Ele tem um movimento de alto risco: pode ficar fora da vice-presidência, ver seu antagonista, seu rival imediato, que é o Aécio, se lançar nacionalmente, e ficar sem lugar até 2018. É um movimento de alto risco. Ele pode ainda, calculando riscos, lançar-se como uma terceira via, imaginando que não ganha em 2014, mas que em 2018 estará em situação de forte competição com Aécio. De terceira força ele pode passar a segunda em 2018. São estratégias, são cálculos cuja materialização vai depender das circunstâncias.
Valor: Uma derrota domingo é o ocaso para José Serra (PSDB)?
Vianna: O Serra perdendo, pela idade, fica muito complicado. Liderança emergente no PSDB, com a derrota dele [Serra], é o Aécio.
Valor: Agora, jogando para 2018, supondo que a presidente Dilma se reeleja em 2014, o senhor imagina que o Lula queira retornar?
Vianna: Não, a questão para mim é outra, e essa questão não é minha, é de todos: quem é o candidato do PT em 2014, Dilma ou Lula? O Lula pode se afeiçoar a esse papel de dirigente partidário, no qual ele está se saindo muito bem agora em 2012.
Valor: O senhor acha que a presidente Dilma não se rebelaria contra um desejo dele de se candidatar?
Vianna: Rebelar, não. Resistir acho que ela está resistindo da forma que lhe é possível. Ela vem sinalizando claramente que quer a reeleição, não na retórica explícita, mas na forma como se resguarda. Ela se resguardou muito no processo da Ação Penal 470, como que dizendo: não tenho nada com isso.
Valor: Só para concluir esse assunto da Ação Penal: na segunda-feira, durante o debate sobre a conjuntura econômica aqui na Anpocs, o senhor foi muito claro ao dizer que não se deve confundir a Ação Penal 470 com a judicialização da política. A continuidade da judicialização da política é um obstáculo à instalação dessa nova república?
Vianna: Não, obstáculo não. Olhe, esse teme mereceria uma outra entrevista. A presença do Judiciário na cena política, que é uma marca da modernização burguesa brasileira - Justiça do Trabalho [anos 1930/1940], Justiça Eleitoral [anos 1930]... Com que intenção isso foi feito lá atrás? Tutelar e controlar a sociedade. Agora, essa marca ficou. O que a Carta [Constitucional] de 1988 disse foi o seguinte: eu vou preservar esse Judiciário que vem da tradição autoritária brasileira, mas vou democratizar as suas funções. O julgamento da Ação Penal 470 foi uma vitória da Carta de 1988.
Valor: Como fazer para preservar essa consagração da Carta que o senhor apontou, como assegurar a reforma política, por exemplo?
Vianna: Essa é a hora do legislador. É o legislador que tem que operar no sentido de tornar nossa legislação eleitoral mais adaptada às nossas circunstâncias.
Valor: E o Congresso Nacional está à altura dessa tarefa?
Vianna: Vai ser obrigado a ficar, porque o impacto do julgamento da Ação Penal 470 foi exatamente no sentido de produzir resultados nessa direção, chamando a atenção do legislador para a urgência da reforma política.
O repórter está em Águas de Lindoia a convite da organização da Anpocs

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