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Jose porfiro · @JPorfiro

20th Apr 2012 from Twitlonger

Idiossincrasias do pacote à indústria

por Antoni Corrêa de Lacerda

O Estado de S. Paulo - 19/04/2012

Foram muito bem-vindas as medidas adicionais do Plano Brasil Maior anunciadas pelo governo no início do mês para ampliar a competitividade da indústria, como já tratei neste espaço (Estado, 4/4). Foi um reconhecimento da necessidade de ajustes que propiciem uma melhora do ambiente de produção e investimentos. Ao contrário de algumas análises, há muito mais virtudes que vícios no conjunto de medidas.

A questão é a efetividade do processo. Existem particularidades que muitas vezes transformam boas intenções em dificuldades. É o caso de muitas iniciativas publicadas em período recente, que, apesar do nobre propósito de melhorar condições de competitividade da economia brasileira, muitas vezes se tornam inócuas ou de difícil execução.

É preciso maior senso de urgência entre o diagnóstico, as iniciativas e sua efetiva implementação. Países com que concorremos oferecem condições de ambiente sistêmico muito mais favoráveis. A situação vigente será inviável no futuro próximo, seja pelo impacto negativo nas contas externas - efeito do desequilíbrio entre importações e exportações -, seja pela perda potencial de valor agregado, empregos, renda e tecnologia/know-how.

Um aspecto positivo é que há hoje mais coesão na condução das políticas macroeconômicas, especialmente no que se refere à redução dos juros, ampliação do crédito e financiamento público e medidas de cunho cambial. Mesmo porque não há medida de competitividade que possa substituir os grandes preços macro. A questão é que, infelizmente, apesar dos avanços, permanecemos ainda muito longe do ideal, considerando o benchmark internacional.

De volta às distorções mencionadas, um primeiro aspecto se refere aos critérios para valoração do conteúdo local. O favorecimento das compras governamentais, aceitando um diferencial de preço de até 25% para quem produza localmente, é um recurso clássico de incentivo. Porém, em muitos casos, isso tem aberto a possibilidade de ocorrência de distorções geradas por custos excessivamente elevados, comparativamente ao benefício gerado. Há, inclusive, casos em que é utilizada mão de obra externa para produzir localmente. Para driblar as restrições de uso de trabalhadores estrangeiros, algumas empresas com pouca ou nenhuma tradição no nosso mercado têm trazido centenas de trabalhadores chineses, que permanecem durante três meses. Vencido o prazo legal, os trabalhadores originais são substituídos por uma nova leva, e sucessivamente. A prática, evidentemente, fere um dos objetivos da medida, que é o de privilegiar o valor agregado local, incluindo os trabalhadores.

Um segundo aspecto que tem de ser melhorado é quanto à possibilidade de substituição da tributação da cota patronal do INSS, de 20%, incidente sobre a folha de pagamento de salários das empresas, pela Contribuição Previdenciária Patronal (CPP), de 1%, sobre a receita bruta no mercado interno. A medida discrimina os produtos de que as empresas poderiam adotar a substituição, segundo a Nomenclatura Comum Mercosul (NCM). Para se beneficiar da possibilidade da desoneração há uma dificuldade prática, pois as empresas teriam de faturar separadamente os produtos beneficiados. Isso aumenta a burocracia e o risco tributário decorrente de divergência de interpretações no Fisco.

São alguns exemplos, entre muitos, que ilustram medidas bem intencionadas, mas que apresentam efeito prático adverso. Enquanto isso, em meio a uma crise nos países ricos, em que muitos estão ávidos para desovar o seu excedente de produção, o nosso mercado interno continua excessivamente exposto, por causa das nossas desvantagens competitivas. Felizmente, em boa hora, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado acaba de aprovar o projeto de Resolução 72, que unifica a alíquota interestadual do ICMS em 4%, inviabilizando a chamada guerra dos portos, uma enorme distorção que tem subsidiado indevidamente as importações.



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'Lei do Bem' patina, mas indústria lucra com inovação

Por Marta Watanabe | De São Paulo

Valor Econômico - 19/04/2012

Integrante da terceira geração da família na administração da Universal Indústrias Gerais, empresa têxtil instalada no interior de São Paulo na década de 50, Jonathan C. Yung, chega a fazer eco ao restante dos representantes de um dos setores mais afetados com a concorrência dos importados. Ele afirma que a "maré é baixa" e que viu "clientes morrendo". Mas, em tom mais otimista que a média do setor, vê para 2012 perspectiva de diversificação de clientela e de manter operação suficiente para fechar o ano com o mesmo quadro de 500 funcionários. "Nós dormimos muito mais tranquilos agora do que antes."

Sim, Yung diz que a Universal se preocupa com a concorrência de produtos vindos da Tailândia, do Vietnã e também da China, país do qual o bisavô e avô trouxeram o conhecimento da fiação. O que está fazendo a diferença hoje para a Universal, diz Yung, foi a estratégia adotada há cerca de cinco anos, quando a empresa resolveu investir em inovação de forma planejada e organizada. Hoje, diz, cerca de 15% a 20% do faturamento da empresa resulta de produtos originados de projetos de inovação.

Para Yung, a Lei do Bem foi muito importante para esse processo. Essa lei permite que a empresa deduza do cálculo do Imposto de Renda (IR) despesas em pesquisa e desenvolvimento. A Universal usa a Lei do Bem desde 2008. Naquele ano 460 empresas se beneficiaram do incentivo fiscal. Os últimos dados disponíveis, de 2010, mostram que a quantidade de empresas que usam o benefício aumentou para 639. Isso não significa, porém, que a renúncia fiscal ou o dispêndio com pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas que usaram o benefício subiu na mesma proporção. A renúncia cresceu de R$ 1,58 bilhão para R$ 1,73 bilhão. O valor dos projetos relacionados aos incentivos ficou praticamente estável: foram R$ 8,79 bilhões em 2008 e R$ 8,62 bilhões em 2010.

Outros dados do governo federal vão no mesmo sentido, mesmo a prazo mais longo. Somando o setor público e o privado, os dispêndios com ciência e tecnologia evoluíram, mas de forma tímida: de 1,3% do PIB em 2000 para 1,62% em 2010. Parte da evolução é creditada por empresas e representantes de indústrias à Lei do Bem, instituída em 2006, quando a fatia desses investimentos no PIB era de 1,29%.

Naércio Menezes Filho, coordenador do centro de políticas públicas do Insper, diz que muitos instrumentos de financiamento e de incentivos fiscais ainda são inacessíveis às empresas menores (ver texto ao lado). "O resultado é a grande concentração de projetos de inovação em setores em que há natural agregação de tecnologia." Em 2010, das 639 empresas que usaram a Lei do Bem, 147 eram do setor de mecânica e transportes. Do setor têxtil foram apenas nove.

A inovação, acredita o consultor Valter Pieracciani, não esteve antes entre as prioridades de estímulo do governo federal. A renúncia fiscal do governo federal para a área, avalia, de R$ 1,7 bilhão, é muito pequena. O problema não está só do lado do estímulo. "Também falta às empresas colocar a inovação no centro da estratégia dos negócios", diz Pieracciani.

Pesquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) com 40 grandes empresas mostra que todas consideram relevante a tecnologia. No horizonte de dez anos, o entendimento fica mais explícito: 80% das empresas entrevistadas consideram que a tecnologia será decisiva para sua estratégia de mercado futura e 20% a consideram relevante. São poucas, porém, que declaram possuir clara cultura de inovação. "As empresas reconhecem que a importância da inovação está mais restrita aos dirigentes. A difusão da cultura é muito pequena no conjunto da empresa e entre fornecedores", diz Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi.

A Universal está entre as nove empresas têxteis que usaram a Lei do Bem em 2010. "A empresa sempre inovou, mas resolvemos estabelecer um programa de pesquisa e desenvolvimento, contratamos um consultor para a área, colocamos os projetos no papel", diz Yung. Foi a organização e formalização, conta, que permitiu o uso de incentivos fiscais. Inovação, acrescenta, custa investimento e tempo. Cada produto demora de seis meses a um ano, desde o início das pesquisas, até estar pronto para chegar ao consumidor final.

Fabricante tradicional de fios para camisas, meias, cuecas e calças de sarja, a Universal continua a ser uma fiação, mas por meio da inovação conseguiu variar a aplicação de seus fios. "Começamos desenvolvendo um fio de bambu, que compõe um tecido que respira muito bem e é aplicável para roupas íntimas", conta Yung. Em seguida, a empresa desenvolveu fios com partículas de prata, que tem ação bactericida, destinado a meias e roupas para ambientes hospitalares. Há cerca de dois anos, conta, a empresa também passou a ter produtos com apelo ecológico, o que também contribuiu para diversificar mais a clientela. Yung conta que passou a reutilizar fibras e resíduos da lavagem do algodão para a produção de fios usados para cortinas, carpetes e estofamentos. "Começamos a atuar em decoração."

Para Gomes de Almeida, do Iedi, as empresas precisam lidar com a inovação como arma e não somente como escudo. "Claro que serve como escudo, mas para se defender existem os mecanismos de proteção. Inovação é para quem quer ganhar market share e novos mercados", diz. Cesar Pissetti, diretor de tecnologia e exportação da Randon Implementos, diz que a inovação é praticamente imprescindível com o surgimento de novos concorrentes. Somente no Brasil, diz, a divisão de implementos da Randon tinha em 2007 um total de 67 concorrentes. No ano passado, já eram 152 empresas.

Em 2011, diz Pissetti, a empresa investiu com recursos próprios em inovação, pesquisa e desenvolvimento o equivalente a 1,2% da receita líquida do ano. A tendência, diz o diretor, é que esse investimento torne-se cada vez mais importante em razão da necessidade de renovar com maior frequência o portfólio. Em 2011, 54% da receita da companhia veio de produtos lançados nos últimos cinco anos.

Na Romi, fabricante de máquinas, cerca de 40% da receita vem de produtos desenvolvidos nos últimos três anos. Hermes Lago, diretor de máquinas e ferramentas, diz que o processo de inovação permitiu que a empresa mantivesse nos últimos anos o patamar histórico de exportação, em torno de 15% da receita, mesmo com a valorização do real em relação ao dólar. Com o aumento da concorrência, porém, os critérios adotados pelas empresas para definir um produto como inovador tendem a se tornar cada vez mais sofisticados e exigentes.

Em 2012, a Whirlpool, fabricante das marcas Brastemp e Consul, por exemplo, começou a aplicar uma mudança de métrica que deve tornar mais rígida a classificação de um produto como inovador. Mário Fioretti, gerente-geral de Design e Inovação da Whirlpool Latin America, explica que o mero ineditismo e a oferta de benefícios novos não torna um produto inovador. "Ele precisa ter uma taxa de rentabilidade mínima. O consumidor precisa estar disposto a pagar mais por ele" diz Fioretti. Ele explica que um dos critérios que ficaram mais rígidos neste ano foi justamente o da rentabilidade. "Vamos aumentar a exigência porque a inovação é fundamental para a competitividade."

O gerente conta que a fabricante de eletrodomésticos passou a ter um programa de inovação há 12 anos. "Nos primeiros anos fomos tateando e aprendendo com os erros. Com o tempo, passamos a ganhar prêmios", lembra. Há quatro ou cinco anos, em função da concorrência maior, a empresa passou a intensificar o investimento no desenvolvimento de novos produtos, com elevação de 15% a 20% ao ano nos recursos aplicados.

Em 2010, 25% da receita da Whirlpool Latin America veio de produtos classificados como inovadores segundo a métrica da empresa. A fatia é oito vezes maior do que a empresa tinha em 2007. Em 2011, houve avanço para 27,5%. O gerente explica que a fatia se refere a produtos desenvolvidos no Brasil ou em parceria com o exterior, mas liderados pelo grupo brasileiro. "Nós estudamos os hábitos que são só da mulher brasileira", diz Fioretti. Entres os produtos desenvolvidos pela empresa, estão uma lavadora de roupas com cestinho para peças íntimas e um fogão com forno que emite jatos de vapor, o que reduz em 20% o tempo de cozimento e deixa o assado com carne tenra e úmida.


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É o câmbio, estúpido

por Ingo Ploger

Correio Braziliense - 19/04/2012

INGO PLÖGER - Presidente do Conselho Empresarial da América Latina (Ceal)

A frase original "It"s the economy, stupid", usada durante a campanha de eleição à presidência dos EUA em 1992 por Bill Clinton, tenta colocar de maneira bastante direta qual era o principal assunto a ser considerado nas eleições americanas. No Brasil, em 2012, é o câmbio.

O câmbio sobrevalorizado está destruindo a indústria. A participação da indústria de transformação no PIB caiu de 19,2% para 14,6% nos últimos oito anos. O cenário internacional sugere que a desvalorização das moedas de referência continuará e as exportações futuras do pré-sal pressionarão ainda mais a valorização do real frente a outras moedas.

Nesse debate, duas correntes de pensamento se confrontam. Os industriais, que produzem no Brasil, que veem as empresas perderem a competição frente aos importados; e os importadores, acompanhados dos segmentos comerciais e financeiros, que ganham mercado e resultados.

A velocidade da valorização cambial é muito maior do que os melhores ganhos de produtividade nas empresas e maior do que as mais rápidas mudanças estruturais possíveis. As explicações para a valorização são várias. Responde-se que acontece principalmente via mercado futuro de câmbio, que rege o carry trade. Países com baixas taxas de juros tomam empréstimos baratos e aplicam em países com altas taxas. Como o Brasil tem taxas elevadas, há enorme pressão no mercado futuro de câmbio para comprar ativos em real.

Outra resposta é a enorme demanda por commodities e o subsequente aumento dos preços. Sendo o Brasil exportador de commodities, a demanda valoriza a moeda. Aponta-se ainda a divergência entre as taxas de inflação do Brasil e de parceiros comerciais como EUA, UE e China. A inflação brasileira tem superado consistentemente as taxas desses parceiros, aumentando a demanda por reais.

Usando o índice de taxa de câmbio publicado pela Fundação Getulio Vargas — FGV, percebemos que, desde meados de 2004, houve forte valorização do real (50,9%). Nesse mesmo período, a produtividade industrial apresentou ganho de 20% a 40%. As melhorias, porém, não são suficientes para contrapor a perda cambial. O câmbio anulou os ganhos no período e, ainda assim, se mantém valorizado.

O crescente influxo de importações é apontado como um dos fatores que mantiveram a taxa de inflação no Brasil sob controle. Mas, a longo prazo, em um cenário em que seremos apenas exportadores de commodities, não haverá renda ou emprego suficientes para comprar os produtos do exterior. A longo prazo, o que vai determinar a competitividade da indústria é a taxa de produtividade. No entanto, com o câmbio muito valorizado, a indústria tem pouca chance de sobreviver. Não haverá longo prazo para a indústria.

A exorbitante carga tributária para um país em desenvolvimento, os altos juros reais, a inadequada infraestrutura, a guerra fiscal e a falta de mão de obra qualificada são importantes fatores que restringem a competitividade da indústria. Descontando-se os ganhos de produtividade desde 2004, a desvalorização necessária para neutralizar os efeitos nefastos da sobrevalorização está em 25%. Ou seja, reestabelecer meta para o câmbio em torno dos R$ 2,2 faria enorme diferença para as indústrias retomarem a competitividade.

No caso de uma desvalorização, será necessário que o governo elimine o deficit nominal, o que tiraria importante pressão sobre a inflação. Os recursos economizados aumentariam a taxa de investimento, que é muito baixa. Uma meta de inflação de 4,5%, cenário em que na realidade a taxa de inflação teve média de 5,4% ao ano desde 2004, encarece as exportações. A meta de inflação precisa ser reduzida.

Não devemos seguir o exemplo da China e atrelar o real ao dólar? Há até economistas que sugerem que a Zona do Euro tem de desvalorizar a moeda em 30% para sair da crise. Desvalorização de tal ordem inundaria o Brasil com produtos importados e a indústria deixaria de criar empregos e provavelmente seria diminuída à insignificância.

O foco da política econômica precisa estar no câmbio em primeiro lugar, para devolver à indústria de transformação o patamar mínimo de sustentabilidade. Precisamos mexer no câmbio imediatamente. O governo precisa gastar menos, desvalorizar o real e abaixar os impostos. Lembre-se: é o câmbio. Em primeiro lugar.


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Krugman elogia política monetária do BC brasileiro

Por Sergio Lamucci e José Roberto Campos | De São Paulo

Valor Econômico - 19/04/2012

O Banco Central brasileiro está certo em sua política de redução dos juros, disse ontem o economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008. "A economia está claramente se desacelerando, e a inflação, provavelmente como em todos os lugares, é transitória", afirmou ao Valor. "O relaxamento monetário é apropriado."

Professor da Universidade de Princeton, nos EUA, Krugman vê problemas na valorização do real, por criar pressões que minam a competitividade da indústria. Ao mesmo tempo, lembrou que o Brasil mantém a própria moeda, que pode ser desvalorizada em algum momento, diferentemente do que se passa com os países da zona do euro. Segundo ele, a situação cambial do Brasil se parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80. Naquela época, o dólar estava forte demais, mas não foi difícil desvalorizá-lo. " Krugman deu breve entrevista antes de participar do Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios, promovido pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), que teve apoio do Valor.

Valor: A presidente Dilma Rousseff reclama do "tsunami monetário", que seria causado pela política monetária dos países desenvolvidos. Diz que isso mina a competitividade dos emergentes e provoca uma guerra cambial. O sr. concorda com ela?

Paul Krugman: Não, embora entenda o problema. Há muito capital buscando os países emergentes e grande valorização da taxa de câmbio. Isso é um problema, mas não por causa de política monetária não apropriada nos países avançados. Esses países têm uma crise econômica grave. Ainda há grande crise de desalavancagem, o que mantém as economias deprimidas. É claro que os juros estão muito baixos. Há excesso de poupança nos países avançados. Se você olha para relação histórica entre desemprego, inflação e juros, as taxas dos Fed Funds deveriam estar em menos 4,5%. É razoável que esteja em zero. Eu entendo, a presidente tem suas preocupações. Há, de algum modo, um tsunami de dinheiro, mas não por causa de Ben Bernanke [presidente do Fed] ou Mario Draghi [do BC Europeu].

Valor: Quão preocupante é a valorização do real?

Krugman: Não é algo positivo, porque cria pressões. O setor manufatureiro perde competitividade e vai ser difícil recuperá-la. De outro lado, o Brasil ainda tem sua própria moeda. O real pode se desvalorizar de novo. O Brasil não tem muita dívida em moeda estrangeira. Quando olho para o Brasil, penso que pelo menos não é a Espanha. A Espanha teve uma valorização em termos reais nos bons anos do euro [devido aos diferenciais de inflação] parecida com a brasileira, mas está numa crise terrível, porque não pode desvalorizar. O Brasil pode. A situação do Brasil parece mais com a dos EUA em meados dos anos 80, quando o dólar ficou muito forte, mas não foi um processo especialmente difícil desvalorizar a moeda de novo.

Valor: Há um grande debate no Brasil sobre desindustrialização. Em 2011, a participação da indústria de transformação no PIB ficou abaixo de 15%. O governo deve tentar proteger a indústria?

Krugman: Não fiz muita lição de casa sobre a situação brasileira, mas acho que há de fato uma questão aí. O Brasil tem os fluxos de capital e as exportações de commodities, e faz algum sentido pelo menos tentar lidar contra os efeitos desses fatores.

Valor: O BC adotou postura mais agressiva desde agosto, quando começou a cortar os juros, apesar de algumas pressões inflacionárias, especialmente nos preços de serviços. Como o sr. vê a política monetária brasileira?

Krugman: Não tenho uma visão forte a respeito, mas acho que é razoável. A economia está claramente em desaceleração, e a inflação, provavelmente como em todos os lugares, é transitória. O relaxamento monetário é apropriado.


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Turbulências persistem, diz Krugman

Correio Braziliense - 19/04/2012

O pânico acabou, mas as economias avançadas ainda não se recuperaram da crise de 2008, quando o banco Lehman Brothers quebrou. A afirmação foi feita ontem pelo Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, que participou de um seminário em São Paulo promovido pelo Sebrae. Hoje, no entanto, o centro da crise migrou para a Europa, que vive um cenário semelhante ao enfrentado pelos Estados Unidos três anos atrás, com famílias endividadas, alta alavancagem de investidores e autoridades reguladoras complacentes.
O problema na Zona do Euro é agravado pela existência de uma moeda única, sem um Estado único. Caso a Espanha tivesse moeda própria, por exemplo, poderia desvalorizá-la para tentar reduzir os efeitos da crise no país. Com a moeda única, isso não é possível. "A situação da Europa é muito complicada. E a Espanha teve um problema semelhante ao dos EUA, que foi a bolha do setor imobiliário", comentou.

Uma saída para o continente seria a expansão da política monetária pelo Banco Central Europeu, com estímulo ao nível de atividade. O risco seria a alta de preços ao consumidor, mas, na visão do economista, poderia funcionar.
Na opinião de Krugman, desde 2002 o Brasil passa por um período de fortalecimento da economia interna. A redução das desigualdades de renda aumentou o mercado consumidor, o que ajuda a mitigar os efeitos da turbulência que atingiu os Estados Unidos e a Europa. Além disso, as empresas e as instituições estão mais cuidadosas. "Aqui (no Brasil), as crises estão na memória mais recente. As pessoas não esqueceram que as coisas podem dar errado. O resultado é mais cautela no setor público e privado", disse.

No entanto, o Nobel alertou que "é difícil para as pequenas empresas exportarem. O Brasil está ganhando uma classe média, isso é um mercado que elas devem olhar para ter sucesso. É uma tendência", afirmou. Entre as dificuldades para as MPE venderem ao mercado externo, segundo o economista, está o fortalecimento da moeda local, que encarece os produtos brasileiros no mercado internacional. "O país enfrenta uma ameaça de perda de competitividade em função do real forte. Mas não é uma catástrofe", amenizou.

A valorização da moeda brasileira se deve, principalmente, ao acréscimo de investimentos estrangeiros na economia local. Krugman destacou que há um fluxo de capitais do norte para o sul, em referência aos investidores que deixam de aplicar nos EUA e na Europa e direcionam seus recursos para as economias emergentes.

Governo dobra emissão em real

O governo decidiu realizar uma emissão maior do que a prevista inicialmente para garantir liquidez aos bônus soberanos denominados em real, buscando combater a valorização do real e melhorar o financiamento de longo prazo de empresas nacionais. O governo captou US$ 3,15 bilhões nos mercados norte-americano, europeu e asiático, com um rendimento de 8,6% ao ano, o menor da história para títulos denominados em real. O papel utilizado foi o bônus Global BRL com vencimento em 2024. "Tínhamos anunciado que iríamos aumentar a nossa curva em real e até fizemos uma emissão um pouco maior para ter bastante liquidez e dar esse sinal de forma clara", afirmou o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.




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Krugman: guerra cambial vai continuar
Autor(es): agência o globo:
O Globo - 19/04/2012



SÃO PAULO. As repetidas queixas do governo brasileiro sobre os juros muito baixos nos países desenvolvidos, a chamada guerra cambial que está por trás da excessiva valorização do real, não vão mudar as políticas expansionistas em curso em EUA e Europa, e o Brasil continuará atraindo capitais enquanto pagar juros altos e a economia continuar crescendo. A afirmação é do economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008. Falando em evento promovido pelo Sebrae, ontem, Krugman disse que o mercado hoje "ama muito o Brasil", como acontecia há uma década com Espanha, Grécia e Irlanda.

Para ele, o Brasil tem duas maneiras de lidar com esse "desconforto": impor mais restrições aos fluxos externos de capital e baixar mais as taxas juros internas.

- Há dinheiro que quer vir para o Brasil e outros emergentes, o que eleva o valor das moedas. O real está extremamente forte, estranhamente forte, e o Bernanke (Ben Bernanke, presidente do BC americano) é acusado de ter emitido muita moeda. A história não é essa - disse Krugman. - Gritar com Bernanke e o Banco Central Europeu não vai resolver. Eles têm problemas maiores do que tornar a vida menos difícil para o Brasil.

O economista reconheceu que não há política única, "de linha dura", para enfrentar o problema cambial. Mas é possível "mitigá-lo" com mais tributação sobre capital externo e juros menores internamente.

Para Krugman, a valorização das commodities também ajudou no fortalecimento do real, e isso realmente é hoje um problema para a indústria brasileira:

- Vai ser um processo longo para um país que quer ent




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Fim da bonança das commodities?

por Maria Clara R. M. do Prado

Valor Econômico - 19/04/2012

Como que pisando em areia movediça, o Fundo Monetário Internacional (FMI) declara que a economia mundial tende a crescer mais em 2012 e em 2013, mas diz também que sérios riscos continuam presentes, principalmente na zona do euro. De fato, um relatório divulgado ontem indica que os bancos europeus continuam sob forte pressão. A isso se somam as desanimadoras perspectivas de crescimento para a região em 2012 que desta vez atingem também a Alemanha (apenas 0,6% de expansão) e a França (0,5% de incremento), sem falar nos demais países que continuam mergulhados em ondas de desconfiança.

A experiência recente mostra que o FMI não tem sido muito bom em prognósticos. No ano passado, tão logo o relatório mundial veio a público em setembro apontando certo otimismo com a recuperação da Europa, a zona do euro sofreu nova recaída. Projeções para a economia chinesa também têm sido superestimadas. Está claro que, sendo um organismo essencialmente político, o FMI sofre constrangimentos em pintar um cenário negro pela frente. É sempre melhor pecar pelo excesso de otimismo!

Minimizado, porém, o aspecto "estava escrito nas estrelas", vale ressaltar a importância do banco de dados do FMI, o maior de todos em termos de estatísticas econômicas. E as variadas análises combinatórias que buscam levantar comportamentos do passado para entender o presente e as possíveis tendências do futuro.

O Panorama Econômico Mundial, principal documento do FMI, tornado público esta semana, durante a chamada "reunião da primavera", em Washington, dedica algumas páginas ao mercado de commodities (pág. 27 a 35 no link www.imf.gov/external/pubs/ft/weo/2012/01/pdf/text.pdf). É o trecho mais relevante para alguém que queira ter uma ideia sobre: 1) para onde vão os preços das commodities e 2) como isso tende a afetar a economia brasileira.

Há uma preocupação com o efeito da queda dos preços médios de metais, produtos agrícolas e outras matérias-primas sobre a economia dos países exportadores de commodities. Nos primeiros meses de 2012 os preços daqueles produtos continuam abaixo, em termos reais, dos níveis registrados em fins de 2010, exceção feita apenas ao petróleo que se mantém em alta por motivos políticos regionais. A questão interessa aos países que na última década puderam sustentar a expansão de suas economias internas com as elevadas receitas obtidas com a venda de café, soja, algodão, minério de ferro, cobre, estanho, zinco, e outros. Encaixa-se como uma luva no caso brasileiro.

A motivação para a piora dos preços vem, obviamente, da redução da demanda mundial provocada pela retração econômica que se seguiu à crise de 2008. No entanto, o que muitos se perguntam é se a queda ocorrida mais recentemente nos preços das commodities tende a se aprofundar e quanto disso estaria ou não relacionado à piora do quadro econômico ou mesmo à manutenção da situação atual?

Os economistas do FMI, depois de fuçarem aqui e ali, concluíram que nunca houve na história do comportamento das commodities um período tão largo, de mais de dez anos, em que todos os tipos de produtos (com exceção, de novo, do petróleo) mantiveram-se em alta independente da origem, se agropecuária ou mineral. Reputam isso à extraordinária fase de expansão mundial com baixa inflação vivenciada a partir de meados da década de 1990 até 2008.

A posição do Brasil não é muito confortável, de acordo com trabalho dos economistas Gustavo Adler e Sebastián Sosa, do FMI, divulgado em dezembro. No quesito "Concentração das Exportações" - que considera a participação das exportações brutas de commodities no total das exportações - situa-se na terceira faixa, de 40 a 50, em escala de 0 a mais de 70. No quesito "Dependência de Commodities", que envolve a exportação líquida de commodities como percentual do Produto Interno Bruto (PIB), há certo alívio: o país fica na segunda faixa, de 0 a 5, em escala de 0 a mais de 20. A menor dependência neste quesito deve-se ao peso das importações de petróleo, uma vez que exportação líquida é o resultado da exportação menos a importação.

E por que tudo isso é importante? Basta ler o artigo do economista Luiz Guilherme Schymura, diretor do Ibre da FGV da Praia de Botafogo, na edição de abril da "Conjuntura Econômica". Ele argumenta que o PIB, a preços de 2011, cresceu 31,8%, entre 2004 e 2011, enquanto que a absorção (demanda doméstica) aumentou 40,1% no mesmo período, significando crescimento de 6,3 pontos percentuais do PIB de 2011.

No mesmo período, nota-se aumento de 3,8 pontos de percentagem do PIB no saldo de transações correntes que corresponderiam à absorção de poupança externa. Os ganhos de termos de troca responderiam pelos restantes 2,5 pontos percentuais do PIB da expansão da demanda doméstica. Ele conclui que 61% do aumento da absorção no período, equivalente a 6,3% do PIB, deveu-se à elevação da absorção de poupança externa e 39% aos ganhos de termos de troca.

Ou seja, os altos preços das commodities que contribuíram para os ganhos dos termos de troca respondem em boa parte pela expansão do mercado doméstico, que impulsionou a economia brasileira nos últimos anos. Se o mercado de commodities tiver uma reviravolta, a economia brasileira vai sofrer, ainda mais quando se imagina que justamente o mercado interno tem sido um dos atrativos para o capital estrangeiro. Cabe ao governo começar a se preparar para enfrentar um eventual pior cenário.

Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação Inteligente e autora do livro "A Real História do Real". Escreve mensalmente, às quintas-feiras.

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