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Jose porfiro · @JPorfiro

1st Mar 2012 from Twitlonger

Os crescentes riscos da China

Por Yao Yang

Um novo informe do Banco Mundial aponta a falta de reforma das empresas estatais como o maior obstáculo ao crescimento econômico do país

VALOR ECONÔMICO, 01-03-2012

Se tudo continuar bem para a China, o país superará os Estados Unidos como maior economia do mundo, em dólares correntes, em 2021 (ou ainda antes em termos reais). Sua renda per capita atingirá o que hoje é a faixa mais baixa dos países de alta renda. Apesar do impulso à frente, a economia chinesa depara-se com riscos à espreita nos próximos dez anos.

O risco imediato é o de continuidade da estagnação, ou recessão, na Europa. Nos últimos dez anos, o crescimento das exportações representou cerca de 30% do crescimento econômico da China e cerca de 30% das exportações chinesas tiveram como destino a União Europeia. Se a situação na Europa continuar a se agravar, o crescimento na China será afetado.

Endurecer excessivamente as políticas macroeconômicas domésticas, especialmente as voltadas ao mercado imobiliário, poderia incrementar o risco de desaceleração. Os preços dos imóveis residenciais na China já estão em queda, afetados por medidas governamentais mais rigorosas. De fato, a situação é bem parecida com a da crise financeira asiática de 1997. Vários anos antes de a crise estourar, a China vinha combatendo a inflação e parecia encaminhar-se a uma desaceleração suave. A crise, no entanto, em conjunto com medidas de austeridade, condenou o país a vários anos de deflação e a um crescimento menor.

[[Um novo informe do Banco Mundial aponta a falta de reforma das empresas estatais como o maior obstáculo ao crescimento econômico do país. Isso, no entanto, é apenas sintoma de um problema mais profundo: o papel dominante do governo nos assuntos econômicos]]

Hoje, enquanto a China pensa no médio prazo, o governo precisa abordar os problemas criados por seu papel predominante na economia. Um novo informe do Banco Mundial aponta a falta de reforma das empresas estatais como o maior obstáculo ao crescimento econômico do país. Isso, no entanto, é apenas sintoma de um problema mais profundo: o papel dominante do governo nos assuntos econômicos.

Além de controlar diretamente entre 25% e 30% do Produto Interno Bruto (PIB), o governo também é responsável pela maior parte dos recursos financeiros. Nos últimos anos, cerca de 35% dos empréstimos bancários foram destinados à infraestrutura, sendo a maior para obras de instituições governamentais. É verdade que o governo admitiu seu excesso de investimentos em infraestrutura e recentemente abandonou vários projetos de trens de alta velocidade que já estavam em construção. O excesso de investimentos governamentais, no entanto, também é flagrante nos vários parques industriais e zonas de alta tecnologia.

O frenesi de investimentos da China faz muitas pessoas recordarem o Japão nos anos 80, quando as linhas de trens de alta velocidade foram levadas aos cantos mais remotos do Japão. A maioria depende de subsídios do governo até hoje. E, embora os subsídios possam melhorar a qualidade de vida das pessoas comuns em vários aspectos, também a prejudicam ao suprimir o consumo doméstico.

Os investimentos em infraestrutura inevitavelmente serão contidos pela lei de diminuição dos retornos marginais. O crescimento no consumo, contudo, não tem limite. Suprimir o consumo, portanto, sufocaria o crescimento futuro, sendo que a participação do consumo doméstico no PIB caiu de 67% em meados da década para menos de 50% nos últimos anos.


O governo chinês é orientado à produção por natureza. A vantagem é que isso ajudou a manter altas taxas de expansão do PIB. O lado negativo, contudo, é igualmente forte. Uma consequência negativa é o aprofundamento persistente da desigualdade de renda. O coeficiente Gini de renda per capita é superior a 50 pontos (100 representa o máximo de desigualdade), o que coloca a China entre os piores 25% em desigualdade no mundo.

O problema pode não ser a desigualdade por si só, mas suas consequências, como a bifurcação do capital humano. O retorno do investimento em educação na China vem aumentando, mas o acesso ao ensino torna-se cada vez mais dividido social e geograficamente. Embora a educação esteja melhorando nas áreas urbanas, as crianças na zona rural deparam-se com um declínio na qualidade do ensino, porque os melhores professores mudam-se para as cidades. Além disso, tendo em vista a disparidade de renda entre o campo e a cidade, a educação nas áreas rurais é mais cara.

Como resultado, a maioria das crianças em áreas rurais entrará na força de trabalho sem diploma universitário. Entre os 140 milhões de trabalhadores migrantes da China, 80% têm apenas nove anos ou menos de educação formal - bem menos do que requerem os países de alta renda.

Apesar do aparente desejo das autoridades de reduzir a desigualdade de renda, o governo da China a agrava ao, entre outras coisas, subsidiar produtores, favorecer indústrias de uso intensivo de capital e manter um setor financeiro altamente ineficiente. Também há, no entanto, sinais promissores de avanço econômico. O governo acaba de anunciar novas regras para o registro familiar, conhecido como "hukou". A não ser nas grandes cidades, as pessoas agora podem escolher livremente seu "hukou" após três anos de residência. Isso ajudará os migrantes imensamente, ao garantir condições iguais de acesso à educação para seus filhos.

Mudar completamente o comportamento distorcivo do governo, no entanto, requer mudanças mais radicais nas políticas. A reforma do "hukou" é um bom começo, já que fortalecerá os direitos políticos dos migrantes nas comunidades locais. Tende em vista seu grande número, sua participação política pode obrigar os governos locais a ficarem mais atentos às necessidades das pessoas comuns. E se os degraus mais baixos do governo começarem a dar mais atenção, é de se esperar que isso acabe chegando às esferas mais altas do poder. (Tradução de Sabino Ahumada)

Yao Yang é diretor do Centro para a Reforma Econômica da China, da Universidade de Pequim.. Copyright: Project Syndicate, 2012.

www.project-syndicate.org

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China’s Growing Growth Risks
Yao Yang Series: Enter the Dragon
2012-02-28
If everything goes right for China, it will surpass the US as the world’s largest economy, at least in current dollar terms, by 2021, and its per capita income will reach that of today’s lower tier of high-income countries. But the Chinese economy faces looming risks in the coming decade

http://www.project-syndicate.org/commentary/yao6


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