JPorfiro

Jose porfiro · @JPorfiro

31st Dec 2011 from Twitlonger

Integrar instituições e criar caminhos para a inovação [report PINTEC]

Por Vanderléia Radaelli e Hérica Morais Righi

Valor Econômico, 26/10/2011 ÀS 00H00

Poucos são os termos capazes de sintetizar de forma simultânea o abstrato e o concreto para dar fuga ao que foi feito ou ao que deveria ter sido como o da inovação. Não há um único jornal diário ou revista de negócios que não traga diariamente o mantra da necessidade de inovar para melhorar o que se faz ou para justificar o que foi feito e cujos resultados não foram tão bons assim. Esse artigo não vai fugir a essa regra.

Na indústria, a inovação passou a ser fim e meio na incessante busca por melhores condições competitivas. O Brasil tem mostrado um protagonismo importante na América Latina, desde o começo dos anos 2000, ao criar e aperfeiçoar ações em prol da incorporação das atividades de inovação entre os principais atores do chamado sistema nacional de inovação.

Todo o arsenal disponibilizado nas economias avançadas foi criado aqui tais como as leis de inovação e de incentivos fiscais, instrumentos de apoio e fomento a empresas, universidades e centros de pesquisas a partir de recursos públicos ou de iniciativas público-privadas. Do lado do governo, o reconhecimento público da importância do tema vem sendo confirmado pelas sucessivas edições da Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia. A indústria, por sua vez, firmou publicamente em 2009 o seu compromisso com o lançamento do Manifesto pela Inovação nas Empresas liderado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) em associação com empresários industriais.

Parte da indústria no Brasil ainda negligencia os conhecimentos gerados no âmbito da própria empresa

As condições institucionais, pelo menos em teoria, estão dadas, ainda que ajustes pontuais sejam necessários como o número de empresas beneficiadas pela Lei do Bem ou maior clareza e ciência dos instrumentos já existentes. No entanto, a complexidade da economia brasileira aliada às incertezas, custos e riscos em torno da inovação, que exigem a priori uma mudança cultural no empresário e no empreendedor, tem levantado dúvidas com relação à incorporação do tema na prática. Informações da Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica) mostram que a maioria das empresas inovou internamente e não para o mercado nacional, ressaltando pequeno esforço voltado para a geração de tecnologias inéditas e a incessante corrida para alcançar os líderes do mercado.

Esse resultado é preocupante, e em certa medida desanimador. Mostra que parte da indústria brasileira ainda elege como estratégia competitiva a busca por conhecimentos e tecnologias produzidos por outros agentes, negligenciando seu próprio papel na obtenção de vantagens competitivas oriundas da capacidade de mesclar conhecimentos complementares: aqueles gerados internamente, no âmbito da própria empresa, com aqueles disponíveis no mercado e de apropriação econômica.

A persistência desse cenário se deve em parte à falta de um sistema integrado que torne o ambiente mais favorável à inovação. Ainda que a indústria se configure como o principal agente do processo inovativo, este não é exequível sem o apoio de outras instituições que constituam um sistema formado por produção de conhecimento, incentivos institucionais e financiamento às atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Dentre os atores desse sistema destaca-se a universidade, responsável pela produção de conhecimento científico e formação profissional. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos e Alemanha, observa-se uma cumplicidade entre a esfera científica e a tecnológica. Grande parte das universidades, desde sua fundação, prioriza em suas atividades a economia local e atendem à necessidade do meio em que está inserida. Desenvolveu-se um relacionamento de apoio mútuo entre universidade e indústria que assegura a competitividade e forma grandes pólos de produção de tecnologia, como o tão conhecido Silicon Valley na Califórnia (berço da Apple, Google, Hewlett-Packard, Intel, dentre outras).

Ampliar imagem

No Brasil, por sua vez, ainda não há um relacionamento estreito entre essas duas esferas institucionais. As relações existentes se mostram imediatistas e esporádicas e não possuem lastro em um processo de retroalimentação. A Pintec mostra que 10,4% das empresas que implementaram inovações o fizeram em projetos cooperativos e 36,3% desses foram com universidades e/ou institutos de pesquisa. A fragilidade dessas conexões prejudica a consolidação do sistema e por extensão compromete o desenvolvimento econômico e social, como já se observa em algumas cidades que até poucos anos eram símbolo da exuberância empresarial e hoje estão tentando encontrar sua identidade frente à dinâmica imposta pelo vigor da concorrência global.

A grande lição é que o termo inovação, assim como sua própria execução prática, pode traduzir fragilidades estruturais e uma infinidade de relações indiretas que vão muito além da criação de políticas e incentivos institucionais. A criação de ferramentas que viabilizem na prática o diálogo entre as universidades e a indústria tem se mostrado o pilar central do perfil e dos condicionantes do esforço brasileiro numa perspectiva já no médio prazo. E, nesse contexto, evitar a descontinuidade de políticas, que impedem o investimento contínuo e deixam as empresas à mercê de interesses não econômicos, deve ser a diretriz orientadora para os membros desse sistema.

A cooperação entre universidade e indústria não acontece repentinamente, nem é imposta, é preciso criar uma relação de confiança, formar competências, concentrar esforços em aprendizado nos agentes, e acima de tudo, entender as necessidades e interesses de cada uma das partes envolvidas nesse relacionamento. É um trabalho intenso, penoso e de longo prazo!

Vanderléia Radaelli é especialista em Ciência e Tecnologia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Hérica Morais Righi é professora assistente da Fundação Dom Cabral, economista e doutoranda em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp.

####################

19/07/2011 ÀS 00H00
Inovar é preciso
Por Claudio Rodrigues
Ampliar imagem

"O Brasil precisa investir em inovação" é quase um "mantra" recitado por empresários, governo, pesquisadores e mídia.

Apesar dessa aparente unanimidade, os resultados atuais, como mostrados na Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2008 e no relatório Unesco sobre Ciência - 2010, no capítulo sobre o Brasil, são ainda tímidos quando comparados, por exemplo, com Índia, China e Rússia, parceiros do Brasil no grupo dos Brics. São consequência direta das decisões que tomamos no passado ou que julgávamos irrelevantes e não resultado de discursos entusiasmados. Talvez seja hora de nos perguntarmos se esse "mantra" não é um "carma".

A inovação não se dá por acaso, muito menos pode ser entendida como um evento isolado. É um processo que requer continuidade, maturação, entendimento, capacitação e ambiente favorável, apropriado e incentivado.

A inovação, apesar de se consubstanciar dentro das empresas, sendo fator de melhoria de seus produtos, processos, marketing e gestão organizacional e consequentemente da sua competitividade e produtividade, das conquistas de novos mercados, da geração de empregos de qualidade e das oportunidades de renda, tem como resultado final o crescimento da riqueza nacional. Por essa razão o apoio do governo como protagonista é relevante para alcançar seus objetivos.

No Brasil, o governo se faz presente, ainda que de maneira modesta. Nas agências de fomento como Fapesp, CNPq e Finep, bem como nos marcos regulatórios das leis de inovação federal e estaduais, da Lei do Bem e dos fundos setoriais, se identificam instrumentos específicos de apoio à inovação empresarial, com espaço para adequação das atuais legislações, de modo a ampliar o benefício para as pequenas e médias empresas.

Temos no país cerca de 400 incubadoras, onde 4.800 empresas orbitam, e 20 parques tecnológicos

A esses se somam o entendimento, hoje melhor que o de ontem, de que a academia e o setor empresarial devem vencer paradigmas. A academia se engajando mais, mantidas suas atribuições de ensino e pesquisa de qualidade, na identificação e atendimento das demandas do setor empresarial e este investindo, de maneira mais relevante, na realização de pesquisa e desenvolvimento empresarial e na contratação de mestres e doutores e, com isso, participando mais efetivamente nas ações de apropriação e utilização de conhecimento e nas interseções com o mundo científico e tecnológico, nas universidades e institutos de pesquisa.

O número de patentes anuais registradas no USPTU, apesar de ser ainda modesto, menor do que 10% do registrado pela China, não o é se esses indicadores forem medidos "per capita". Nesse caso, com base em dados da Fapesp, o número de patentes por pesquisador em empresas é 1,7 no Brasil enquanto na China é 1,3.

Somos poucos, porem competentes. Iniciamos tarde e melhoramos lentamente. Isso ainda está longe do suficiente.

São ações que mantidas, ampliadas e universalizadas, permitem ver dias melhores para os resultados da inovação no país.

Ao se deter no "locus" da inovação empresarial, as micro e pequenas empresas que hoje representam mais de 90% dos cerca de seis milhões de estabelecimentos formais no país, com mais de 50 milhões de empregos gerados, se apresentam como o segmento com maior impacto para alavancar o crescimento da inovação e consequentemente da competitividade das empresas brasileiras.

Quando se foca no universo dessas empresas com negócios tecnológicos, os recursos das agências de fomento, as políticas públicas, aproximação com o mundo acadêmico, participação de pesquisadores, valorização da propriedade intelectual, se tornam mais atuantes e visíveis, contribuindo para o sucesso desses empreendimentos que passam a ter um lugar ao sol no panorama da inovação nacional e no mercado.

Como facilitadores desse processo, as incubadoras de empresas e parques tecnológicos, como "habitats" onde, naturalmente, se estabelecem sinergias para o sucesso dessas empresas e não um ambiente de concorrência que não ajuda, nesse momento de fortalecimento de seus negócios, são agentes capazes de desempenhar um papel relevante no apoio à solução dos gargalos tecnológicos, empresariais e mercadológicos demandados nesse universo.

Somos hoje, segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), um país com cerca de 400 incubadoras de empresas e 20 parques tecnológicos. Nessas incubadoras orbitam hoje mais de 4.800 empresas, tendo sido graduadas para o mercado, nos últimos dez anos, perto de 1.500 dessas instituições.

Em São Paulo, como preconiza a sua Lei de Inovação, foram criados, recentemente, o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec) e a Rede Paulista de Incubadoras Tecnológicas (RPITec), identificados, juntamente com o Fundo Estadual Científico e Tecnológico (Funcet), como agentes no apoio a inovação empresarial, empreendedorismo e a criação e fortalecimento de empresas de base tecnológica, inclusive e especialmente de pequenas empresas.

São processos que têm como foco os desafios de uma participação importante e crescente no mercado e na geração de empregos de qualidade. Desafios que pela sua relevância e oportunidade exigem uma cruzada, com governo e sociedade presentes, rumo a uma maximização da inovação empresarial.

Atualizando a reflexão de Fernando Pessoa, "navegar é preciso" e foi preciso para vencer os desafios que se apresentavam no quadro político e macro econômico de centenas de anos atrás, seria de todo pertinente dizer, hoje, que "Inovar é preciso" e... viver, com qualidade e bem, também.

Nem mantra nem carma, a inovação é e será o resultado de nosso entendimento e das nossas ações.

Claudio Rodrigues é diretor-presidente do Cietec

#####################

27/06/2011 ÀS 00H00
Rumo ao futuro
Por Carmen Nery | Para o Valor, de Fortaleza
Se houve um consenso na 11ª Conferência Anpei de Inovação Tecnológica, realizada de 20 a 22 de junho em Fortaleza, é que tanto o governo quanto as empresas ainda precisam empreender muito mais esforços e multiplicar os investimentos em inovação para que o país alcance competitividade global. Na abertura do evento, o ministro de ciência e tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que o ministério vai trabalhar para fomentar no país P&D e conteúdo nacional e para isso irá criar novos Processos Produtivos Básicos (PPBs) incluindo até a indústria automobilística.

"As empresas têm que investir mais. Não podemos mais aceitar a ideia de crescimento das importações como elas estão ocorrendo. Quem quer ter incentivo fiscal tem que produzir no Brasil e ter pesquisa e desenvolvimento", disse. Em um prazo máximo de um mês o governo deve concluir as negociações da nova Política de Desenvolvimento Competitivo (PDC), informou. Também estão sendo criados mais quatro fundos setoriais -financeiro, construção civil, automotivo e mineração.

"Estamos trabalhando com a CNI e esperamos até o início de agosto já ter o desenho jurídico e começar a ver o financiamento da proposta", informou. Mercadante reafirmou a intenção de transformar a Finep em banco, mas ressalvou que o tema envolve uma negociação complexa, em função das exigências das regras de Basileia.

Os dados da última Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), feita pelo IBGE, com os investimentos em inovação até 2008, foram exaustivamente discutidos na conferência. Juntos, governo e empresas investem o equivalente a 1,13% do PIB - a fatia pública é de 0,55%. O governo considera que as empresas as investem pouco na comparação com outros países, enquanto sua participação está na média de países como o Reino Unido.

"A nossa ideia é que até 2015 esses investimentos cheguem a 1,8% do PIB, com uma participação de 0,9% tanto do governo quanto das empresas", defendeu Reinaldo Mota secretário nacional de ciência e tecnologia. Já as empresas defendiam que o governo precisa não só elevar os investimento, mas principalmente melhorar os instrumentos de fomento.

"Os atores da inovação têm que investir mais, e um investimento alavanca o outro", concordou Carlos Calmanovici, presidente da Anpei. De acordo com ele, falta escala global para que P&D no Brasil sejam competitivos: "0,60% do PIB do Reino Unido é muito mais do que o mesmo percentual do PIB brasileiro. A ordem de grandeza dos gastos de P&D no mundo é US$ 1,2 trilhão e o Brasil não chega a 2%."

"Os dois lados têm razão", resumiu Pedro Wongtschowski, presidente do Grupo Ultra e do Movimento Empresarial pela Inovação, iniciativa da CNI que tem promovido reuniões a cada seis semanas com um quórum privilegiado de líderes empresariais e representantes do governo para debater melhorias no arcabouço legal da inovação.

"Já apresentamos um conjunto de sugestões e melhorias especialmente da Lei da Inovação e da Lei do Bem, além de questões relativas à Receita Federal. A Lei da Inovação é um instrumento poderoso, mas muito pouco utilizado. Só 630 empresas de um universo de 105 mil no Brasil se beneficiam de incentivos porque há imperfeições na lei", alertou Wongtschowski.

Na última reunião o tema foi propriedade intelectual e a biodiversidade, quando foram feitas recomendações para o INPI a fim de acelerar o processo de análise de patentes e permitir a exploração econômica da biodiversidade no país.

No evento, o presidente do INPI, Jorge Ávila, observou que a biodiversidade foi excluída da lei de propriedade intelectual e este ponto está sendo revisto. Já a reivindicação de se reduzir do "backlog" (fila) na análise das patentes para quatro anos, não será resolvida imediatamente. "Isso depende de uma ampliação no número de examinadores, de tecnologia e da inserção do INPI numa rede de colaboração com outros institutos", observou.

No final da conferência foi produzida a Carta de Fortaleza com recomendações sobre os pontos que precisam ser corrigidos para a inovação avançar. Isso inclui a ampliação dos investimentos, atualização dos mecanismos de apoio e marcos legais e maior segurança jurídica, formação de recursos humanos, agilidade nas análises de patentes e o acesso a biodiversidade.

###################

Home Brasil Política Internacional Empresas Finanças Cultura & Estilo Opinião
20/04/2011 ÀS 11H13
Estatais federais tiveram taxa de inovação de 68,1% em 2008, diz IBGE
Por Rafael Rosas | Valor
RIO - As empresas estatais federais fecharam 2008 com uma taxa de inovação de 68,1%. Das 72 companhias analisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49 implementaram produtos ou processos novos ou substancialmente aprimorados entre 2006 e 2008.

Os dados constam da Pesquisa de Inovação nas Empresas Estatais Federais 2008, divulgada hoje, e mostram que a fatia de empresas inovadoras ficou acima dos 38,6% verificados para empresas industriais e dos serviços selecionados no âmbito da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec 2008), excluídas as estatais federais.

As estatais federais gastaram R$ 5,6 bilhões nas atividades de inovação em 2008, o que representa 1,7% do faturamento de cerca de R$ 330 bilhões. O estudo mostra que as inovações das estatais federais foram baseadas especialmente na realização de atividades contínuas de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Segundo a pesquisa, mais da metade das estatais federais enfrentou obstáculos à inovação em 2008. Os dois principais foram a dificuldade para se adequar a padrões, normas e regulamentações e a rigidez organizacional, cada um deles citado por 64,3% das estatais federais, percentual superior aos mencionados pelas empresas da Pintec em geral (32,4% e 31,4%, respectivamente), cujo principal obstáculo foram os elevados custos da inovação, apontado por 73,1% das empresas investigadas.

Esta é a primeira pesquisa do IBGE que analisa apenas as estatais federais, além de setores que nunca tinham sido estudados pelo instituto. O estudo engloba as atividades econômicas de eletricidade e gás; construção; comércio; transporte, armazenagem e correio; atividades financeiras, de seguros e serviços selecionados; atividades imobiliárias; atividades profissionais, científicas e técnicas; atividades administrativas e serviços complementares; e outras atividades de serviços.

Entre as 49 estatais inovadoras, 37 tinham mais de 500 pessoas ocupadas. A inovação apenas em processo predominou em 33,3% das estatais inovadoras, enquanto 30,6% delas inovaram em produto e processo e 4,2% apenas em produto.

“Trata-se de um comportamento diferente do observado pelas empresas em geral da Pintec 2008, em que as inovações em produto e processo predominaram em 17,2% das inovadoras”, diz a nota divulgada pelo IBGE.

Dentre as estatais federais inovadoras, 27,8% realizaram inovação de produto para o mercado nacional e 29,2% implementaram processo novo direcionado ao mercado interno, percentuais superiores aos registrados para as empresas em geral (4,4% e 2,4%, respectivamente). De acordo com o IBGE, isso ocorre porque grande parte das estatais federais são as únicas produtoras de um bem e/ou as únicas a oferecer determinado serviço.

Entre as atividades empreendidas para inovar, destacaram-se as de P&D, que, desenvolvidas internamente, representaram 42,9% nas estatais contra 11,9% no âmbito da Pintec 2008; já a aquisição externa ficou em 34,7% entre as estatais frente a 4,2% para as empresas da Pintec 2008. Nas estatais inovadoras, cerca de 10 mil pessoas se envolveram nesta atividade, 53% com ensino superior, sendo 27% com pós-graduação.

Dos R$ 5,6 bilhões investidos pelas estatais em inovação, o gasto em P&D interno foi de R$ 3,5 bilhões. Das 19 inovadoras que investiram em P&D interno, 17 desenvolveram a atividade continuamente, o equivalente a 89%, percentual superior aos 72% da Pintec.

Todas as estatais inovadoras apontaram ao menos um impacto proveniente da inovação como relevante, em especial a melhoria da qualidade dos produtos (83,7%), o aumento da flexibilidade de produção (83,7%) e o aumento da capacidade produtiva (75,5%), estes últimos diretamente ligados à produtividade. Em seguida, aparecem a manutenção (69,4%) e a ampliação (61,2%) da participação da empresa no mercado, considerado o menos importante (46,9%).

(Rafael Rosas | Valor)

####################

27/01/2011 ÀS 00H00
A desindustrialização e o aumento da inovação
Por Luís Felipe Giesteira
Ampliar imagem
A quarta Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec) foi alvissareira para os responsáveis pela política de inovação tecnológica brasileira. Ao mesmo tempo trouxe dilemas instigantes, cuja elucidação determinará avanços adicionais.
Depois de renitentes sinais de ineficácia dos esforços que o governo federal e os estaduais vinham realizando desde 1999 para incrementar o esforço tecnológico das firmas brasileiras - e assim aproximá-las dos padrões competitivos típicos dos países desenvolvidos -, sólidos indicadores de avanços foram logrados. Curiosamente, esses avanços se dão em um momento em que crescem as evidências de decadência relativa da indústria de transformação, tanto no que refere a sua importância na economia quanto a sua força frente à concorrência externa.

O patamar de firmas inovadoras atingiu 38,6% (38,4% apenas nas atividades manufatureiras), contra perto de um terço nas Pintecs anteriores e 39% na média da União Europeia. O aumento significativo na proporção de firmas que inovaram em relação a todo mercado nacional, de 5,38% (4,97% entre as manufatureiras) para 6,80% (6,47%) do total, faz esse resultado ainda mais notável.

Coerentemente, o gasto empresarial em pesquisa e desenvolvimento (P&D), expresso como proporção da receita líquida de vendas, passou de 0,85% para 0,93% (0,66% para 0,75% na indústria de transformação). Pode-se utilizar essas informações para traçar comparações mais ilustrativas, já que o mais frequente internacionalmente é utilizar a relação entre P&D e Produto Interno Bruto (PIB).

Cruzando-as com as contas nacionais, pode-se estimar o P&D empresarial não universitário em 0,58% do PIB brasileiro de 2008. Como o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) calcula que outros 0,03% sejam realizados por empresas não compreendidas pela Pintec, é bastante provável que o setor empresarial brasileiro tenha se aproximado da marca cabalística de mais de 50% do P&D realizado no país, já que o total do P&D público atingiu 0,58% do PIB em 2008.

Sucesso criativo está concentrado em poucos setores, química pesada, inclusive refino de petróleo, e transporte

Ademais, ao perfazer algo como 1,19% do PIB (o Ministério estima 1,24% em 2009), o Brasil afasta-se significativamente do patamar típico de países industrialmente frágeis, os quais muito raramente ultrapassam 1%, enquanto países avançados como a Itália, Espanha, Canadá e Noruega se situam pouco acima ou abaixo de 1,5%. Na verdade, apenas China e Brasil o fazem de fato (na medida em que a Rússia tem seu dado fortemente enviesado pelo seu relevante mas atípico esforço militar), já que Índia, Turquia e África do Sul gastam 0,84% do PIB em P&D e os países hispano-americanos mais desenvolvidos gastam pouco mais de 0,5%.

O que explicaria que, depois de um longo período de estagnação dos principais indicadores de arrojo tecnológico empresarial, finalmente tenhamos avançado? Em primeiro lugar, a significativa aceleração do crescimento econômico, a qual costuma estimular a inovação, sobretudo quando acompanhada de melhora das perspectivas a longo prazo e de aumento do investimento. Em segundo lugar, o veloz aumento da intensidade da política nacional de indução ao esforço tecnológico, recentemente avaliada como a segunda mais arrojada entre os países ocidentais. Por outro lado, é paradoxal o fato de que vem se assistindo a uma deterioração significativa e acelerada da competitividade da indústria nacional, ainda mais notável justamente nos setores de maior intensidade tecnológica.

A elucidação dessa conjunção de constatações díspares tem de ser buscada na peculiar situação de a indústria de transformação brasileira ser relativamente inovadora e arrojada tecnologicamente apesar de ao mesmo tempo ser (cada vez mais) frágil justamente nos setores que tradicionalmente mais investem em P&D e inovam.

Ocorre que o sucesso inovativo brasileiro está concentrado em poucos grupos de atividades: a química pesada (inclusive petroquímica e refino de petróleo) e material de transporte (inclusive aeronáutica). Esses dois conjuntos representaram mais de 60% de toda P&D industrial brasileira em 2008 (contra 58% em 2005), em contraste com os menos de 25% nos países desenvolvidos.

Tal desproporção é explicada apenas em parte pelo fato de as empresas brasilerias desses setores serem excepcionalmente arrojadas (puxadas, sobretudo, pela Petrobras na química e pela Embraer em material de transporte). Na verdade, as firmas brasileiras dos setores que tipicamente mais executam P&D e inovam internacionalmente - farmacêutica, eletrônica, aeronáutica e equipamentos de precisão - também costumam esforçar-se tecnologicamente muito acima da média geral. O que faz peculiarmente "fora do lugar" a distribuição setorial da P&D e da inovação no Brasil é o fato de que a química pesada "expandida" e material de transporte - setores de intensidade tecnológica intermediária - respondem por elevada parcela do PIB industrial brasileiro, ao passo que os setores tipicamente de elevada intensidade tecnológica não apenas são relativamente pequenos como estão perdendo participação no PIB.

Não há propriamente um paradoxo no fato de as empresas brasileiras estarem aumentando sua atividade tecnológica ao mesmo tempo em que cada vez mais nossa produção e nossas exportações são baseadas em bens de baixo conteúdo tecnológico. O que ocorre é uma disputa entre duas forças em direções se não opostas claramente concorrentes, na qual uma - a arrojada política de inovação tecnológica que ora praticamos, beneficiada por um ambiente favorável aos investimentos - vem prevalecendo sobre outra - a perda de peso econômico e de competitividade da indústria de transformação, sobretudo em ramos de alta intensidade tecnológica.

Embora os resultados alcançados pela política de inovação tecnológica sejam salutares e apontem para uma aproximação entre nossa crescente produção científica (que deve alcançar 3% dos artigos indexados de todo mundo em breve) e nossa atividade empresarial, sua articulação com uma política industrial norteada por critérios de intensidade tecnológica setorial acelerariam relevantemente sua efetividade econômica.

Luís Felipe Giesteira é especialista em políticas públicas e gestão governamental e doutor em teoria econômica pela Unicamp

#########################

05/01/2011 ÀS 00H00
Para analistas, inovação segue em passo lento
Por Chico Santos | Do Rio
Tem razão o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, ao conclamar, no seu discurso de posse, as empresas brasileiras a investir "muito mais" em inovação. Enquanto isso não ocorrer, é mera retórica esperar que o país supere o nível de uma economia medianamente industrializada e de baixa intensidade tecnológica. Essa é a única unanimidade entre acadêmicos, analistas, instituições e órgãos de governo.

Os resultados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) referentes a 2008, recentemente divulgados pelo IBGE, foram recebidos com decepção ou reservas por parte de analistas de fora e até de setores ligados ao Estado. BNDES e Finep, principais responsáveis pelo fomento à inovação no país, viram avanços. A Pintec 2008 é o retrato mais recente e completo do estágio em que se encontra o Brasil na área da inovação.

Apesar de a taxa de inovação na indústria (percentual que representa o total de indústrias ouvidas dividido pelo total das que disseram ter introduzido pelo menos uma inovação) ter passado de 33,4% em 2005 para 38,1% em 2008, o economista David Kupfer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos principais estudiosos da evolução industrial do país, constatou que quando visto mais de perto, com lupa, o resultado não é tão auspicioso quanto possa parecer. Ele constatou que das 100,5 mil indústrias pesquisadas, apenas 4,2% realizaram atividades internas de pesquisa e desenvolvimento em 2008, ante 5,6% na Pintec de 2005. O dado é o principal indicador do esforço inovativo feito pelas empresas industriais.

Resultado da pesquisa tecnológica 2008 - gráfico
http://www.valor.com.br/sites/default/files/gn/11/01/arte05esp-102-inova-a14.jpg

"Eu gosto de ver mais as variáveis de esforço do que de resultado", disse Kupfer, que escreveu artigo no Valoranalisando os números. Ressalvando a necessidade de que seja feito um mergulho mais profundo nos números da Pintec, ele alinhou outros dados que, na sua opinião, corroboram sua relativa decepção. Sempre comparando 2008 com 2005, os gastos da indústria de transformação com pesquisa e desenvolvimento (P&D) caíram de 2,8% para 2,6% do faturamento. A proporção de pessoas ligadas a atividades de P&D em relação ao pessoal total caiu de 0,80% para 0,69%, e o número de mestres e doutores aumentou apenas de 4.280 para 4.340 em três anos.

Em análise da Pintec publicada na última edição do boletim "Radar", do Ipea, os pesquisadores Luiz Ricardo Cavalcante e Fernanda De Negri mostram pontos de concordância com Kupfer. "Embora bastante intuitiva e passível de comparações internacionais, a taxa de inovação é um indicador limitado pelas dificuldades metodológicas associadas à própria aferição da inovação e por sua dependência de fatores como a estrutura de mercado", dizem os analistas.

Para deixar claro o que significa essa relação com a estrutura do mercado eles afirmam que se, hipoteticamente, em um universo de três empresas duas disserem que inovaram, a taxa de inovação é de 67%. Mas se elas se fundirem, buscando aumentar suas escalas de P&D, o universo da pesquisa passa a ser de duas empresas e a taxa de inovação cai para 50%.

Os técnicos ressaltam a constatação feita por Kupfer de que a percentagem de empresas que realizaram esforços internos de P&D encolheu de 5,6% para 4,2%, destacando que a queda foi sistemática ao longo das quatro edições trianuais da Pintec. Na versão 1998-2000 o número era 10,29%, caindo para 5,86% na de 2001-2003 e aprofundando a queda nas versões de 2003-2005 e 2006-2008.

Segundo a análise dos técnicos do Ipea, é "pouco provável" que em 2010 tenha sido alcançada a meta estipulada pela Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de que os gastos empresariais com P&D chegassem a 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB). A conclusão é baseada no avanço obtido no período de 2005 a 2008.

De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Pintec mostrou um crescimento de 10%, com o total dos gastos empresariais na área passando de 0,49% para 0,54% do PIB. Os analistas do Ipea compararam o avanço brasileiro com o de outros países e concluíram que o esforço brasileiro, embora expressivo, está sendo muito pequeno quando considerada a necessidade que o país tem de investir para reduzir o fosso tecnológico entre ele e os países que estão na fronteira tecnológica.

Os 10% de avanço brasileiro em relação a 2005 foram inferiores aos 12% dos Estados Unidos, aos 21% da China, aos 23% da Espanha, e aos incríveis 145% de Portugal, onde a taxa de investimento das empresas em P&D passou de 0,31% para 0,76% do PIB. Com base nos dados analisados, os técnicos do Ipea calculam que aumentando os investimentos no ritmo atual o Brasil precisaria de 20 anos para chegar aos níveis europeus.

Para Kupfer, a decepção veio também por conta da falta de resultados mais expressivos em um período no qual a economia brasileira cresceu em ritmo mais acelerado. De 2006 a 2008 o PIB brasileiro expandiu-se a uma média anual de 5,1%. "Parece que a indústria brasileira não investe em inovação na fase ruim porque está ruim e também não investe na fartura porque está farto", provocou.

Na sua visão, as grandes empresas internacionais tendem a introduzir no Brasil inovações disponíveis no grupo, investindo aqui mais no "D" de desenvolvimento do que em P&D. Segundo ele, a indústria farmacêutica mundial investe de 10% a 15% do faturamento em P&D, enquanto o esforço interno no Brasil não passa de 0,8%. "É igual à indústria gráfica, que é o que a indústria farmacêutica acaba sendo no Brasil", provoca. Kupfer, um dos autores do célebre "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira" de 1993 (coordenado por Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz), ressalta a necessidade de aprofundar o exame setorial dos dados da Pintec.

A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) não quis se pronunciar. O gerente-técnico-regulatório da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Henrique Tada, disse que, embora as múltis invistam mais, os laboratórios nacionais já "assimilaram a ideia de que é preciso inovar" e vêm investindo de forma crescente em medicamentos. Segundo ele, o Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos, que vai para a quinta edição este ano, tem sido um evento cada vez mais concorrido, refletindo o crescimento do esforço inovador da indústria.

#################

5/01/2011 ÀS 00H00
Presidente da Finep vê crescimento expressivo
Por Do Rio
Ampliar imagem
Luiz Fernandes, presidente da Finep: crescimento da taxa de inovação na indústria para 38,1% "não é desprezível"O presidente da Finep, Luiz Fernandes, considera que o economista David Kupfer está "excessivamente pessimista, inclusive com os dados". Ele disse que a próprio crescimento da taxa de inovação na indústria para 38,1% "não é desprezível", considerando que essa taxa "estava estagnada na casa dos 33% até 2005". "São 9 mil empresas a mais que inovaram", ressalta.
Fernandes destacou também, no que toca ao esforço de pesquisa, o aumento de 0,57% para 0,62% do percentual do faturamento das indústrias destinado a pesquisa e desenvolvimento (P&D). Outro dado positivo destacado pelo dirigente da principal agência de fomento à pesquisa tecnológica do Brasil foi o fato de ter passado de 18,8% para 22,3% o percentual de empresas inovadoras que utilizaram pelo menos um mecanismo de apoio governamental.

Quanto ao compartilhamento do risco, ele entende que os mecanismos de apoio do Estado têm esse viés, principalmente a subvenção econômica (recursos a fundo perdido) que a Finep passou a conceder a empresas selecionadas a partir de 2007 e que está no seu quarto edital. "A subvenção encoraja a inovar. Se não houver resultado, a empresa não precisa perder dinheiro. Isso é compartilhar risco", disse. Fernandes resume assim o quadro que viu dos números da Pintec: "Precisamos melhorar muito, mas ficamos satisfeitos em ver uma evolução na direção correta".

Também o BNDES, que nos últimos anos aumentou muito sua participação nos mecanismos de apoio estatal à inovação, considera que a leitura da Pintec feita pelos analistas precisa ser ponderada, mesmo admitindo que há um longo caminho a percorrer. Para Claudio Leal, superintendente de planejamento do banco, o período de 2006 a 2008 compreendido pela última pesquisa do IBGE "não é capaz de captar" os resultados dos diversos mecanismos de apoio à pesquisa e desenvolvimento e à inovação no Brasil.

"Estamos com a Finep, há um processo positivo", disse, ressaltando que esse aspecto positivo existe mesmo quando o avanço é obtido só com a compra de máquinas e equipamentos mais modernos.

Ele destacou o crescimento do interesse de empresas estrangeiras de instalarem centros de pesquisas no país, especialmente na área de petróleo, e o aumento da disponibilidade de financiamento, liberando a empresa de usar recursos próprios para inovar.

Somente o BNDES possui hoje 15 mecanismos de fomento voltados para a inovação. No conjunto, eles desembolsaram R$ 563 milhões em 2009, no total de 156 projetos, saltando para R$ 999 milhões em 217 projetos, de janeiro a outubro de 2010.

O relatório anual de utilização dos incentivos fiscais da chamada Lei do Bem (nº 11.196/2005) referente a 2009, recentemente divulgado pelo MCT, também reflete o clima de otimismo, com ressalvas, existente no governo quanto aos avanços do país em P&D e inovação.

O trabalho mostra que o total de empresas habilitadas a utilizar os incentivos tem crescido ano a ano. Foi de 130 em 2006 para 300 em 2007, 460 em 2008, e 542 em 2009. Apesar do crescimento em número, o total investido em P&D pelas empresas habilitadas a usar a Lei do Bem, R$ 8,33 bilhões, foi 5% menor do que o do ano anterior, fato atribuído aos efeitos da crise econômica internacional. A renúncia fiscal do governo foi de R$ 1,32 bilhão.

Nas suas conclusões, o trabalho do MCT também destaca a necessidade de uma evolução maior. Considerando que o total de empresas beneficiárias dos incentivos fiscais da Lei do Bem corresponde a 14,5% do total de empresas que investiram em P&D no Brasil (dados da Pintec 2008), o ministério diz que "a participação do empresariado brasileiro nos investimentos em P&D ainda é bastante tímida".

"Essa situação não é compatível com o atual sistema de educação e de ciência e tecnologia do Brasil, o que tem provocado um descompasso entre a tênue geração de inovação das empresas brasileiras e a alta competência técnico-científica das nossas universidades", diz o trabalho, corroborando, de certa forma, o economista David Kupfer quando diz, aplaudindo a Lei do Bem: "Não estamos na direção errada, mas ainda temos muito que andar". (CS)

###############

05/01/2011 ÀS 00H00
Números escondem uma realidade ainda pior, diz Protec
Por Chico Santos e Heloisa Magalhães | Do Rio
Ampliar imagem
Roberto Nicolsky, presidente da Protec: "Os estudantes só vão para as empresas como um prêmio de consolação"
O presidente da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, é mais radical do que David Kupfer ao criticar o comportamento da indústria brasileira no quesito inovação. Para ele, o resultado da Pintec esconde uma realidade ainda pior.

"A Pintec confunde inovação com modernização." Para Nicolsky, o crescimento da taxa de inovação expresso na pesquisa do IBGE decorre da compra de máquinas mais modernas pelas empresas. "Elas não inovam. Compram um equipamento mais moderno com inovação incorporada", disse.

Nicolsky acha que no Brasil os estudantes querem ser inventores ao estilo professor Pardal, o famoso personagem de Walt Disney, sempre debruçado sobre uma revolucionária descoberta científica. "Os estudantes querem fazer ciência e só vão para as empresas como prêmio de consolação", afirmou.

Para ele, que durante muito tempo trabalhou em empresas, o próprio sistema de incentivos, começando pelas subvenções da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é mais voltado para a academia. A maior prova, segundo Nicolsky, foi que quando o edital de subvenções de 2010 introduziu exigências que bloqueavam o acesso a empresas de origem acadêmica, houve forte redução no número de interessados.

O presidente da Protec considera que inovação é algo bem mais simples do que a busca por inventos mirabolantes. "É melhorar de alguma forma o seu produto ou o seu processo para tornar o produto melhor e mais barato", resume. Tanto Nicolsky como Kupfer consideram que está faltando no sistema de incentivos brasileiros mais estímulo para que as empresas assumam o risco, que é alto, de pesquisar. A concessão de financiamentos, mesmo baratos, por exemplo, seria um caminho pouco produtivo, a não ser que acompanhada de mecanismos de compartilhamento da possibilidade grande de fracasso inerente a toda pesquisa.

O economista Antonio Barros de Castro, também professor da UFRJ, ex-presidente do BNDES, reconhece que entre os estudiosos da temática da indústria no Brasil "ninguém se entusiasmou" com o resultado da Pintec. Segundo ele, o mais impressionante é que na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em maio deste ano, "ficou evidente que o Brasil vem acumulando forças para um possível desejado ingresso na economia do conhecimento".

Entre os sinais desses esforços, ele enumerou o aumento da verba do MCT "de US$ 600 milhões para US$ 2 bilhões em uma década" e a multiplicação de órgãos, tanto na esfera federal como na estadual e na municipal, voltados para o incentivo à busca da inovação. "Sessenta por cento dos gastos com inovação na América Latina vêm do Brasil", resume Castro, que acrescenta: "Os resultados, porém, são bastante modestos". Ele acha que o furacão China inibe o apetite inovador do empresário e sugere, como vem fazendo há muito tempo, que o Brasil busque adensar as cadeias produtivas em áreas nas quais pode ser líder, como o petróleo em águas profundas e o etanol.

Reply · Report Post