Eu acho o Felipe Neto um rapaz extremamente talentoso, criativo e inteligente. Participei recentemente do seriado de TV dele, o “Será que Faz Sentido?” e pude conhecer o seu lado pessoal, tranqüilo e divertido. Não tenho nenhuma reclamação, nada a falar negativamente, jamais, pois ele sempre me tratou com o máximo de atenção, carinho, de educação e respeito.

Como ele próprio sempre comenta, aquele Felipe Neto do programa de internet é uma personagem, que em catarses, coloca pra fora de forma bem radical várias análises ácidas de nossa realidade, do universo pop, da mídia e do nosso dia a dia, provocando as mais variadas reações nas pessoas. Eu entendo, perfeitamente. Mas um personagem pode provocar tanto emoções extremamente positivas quanto negativas.

Semana passada, ele me convidou empolgado para gravar alguns áudios para um próximo vídeo que ele faria sobre dublagem, que contaria com a participação de meus queridos colegas Mauro Ramos e Mabel Cezar. Na mesma hora eu topei. Seria uma frase simples, que depois seria colocada sincronizada com a imagem dele, como se eu tivesse dublado, o que ficaria muito engraçado. Não pedi pra ver o texto antes, achei que seria muito legal. Imaginei que os fãs dele e os de dublagem adorariam ver os dois universos se encontrando. Mais tarde soube que o Mauro Ramos acabou não gravando e que somente eu e Mabel participaríamos.

Quando eu vi o resultado, confesso que tomei um grande susto. Eu sempre procuro entender o personagem, adoro ser provocado por este, entrar na brincadeira, me deixar levar na viagem sensorial que ele apresenta. Mas o que aconteceu foi que eu fiquei abalado, triste e sem entender. Revi o vídeo várias vezes e fiquei preocupado. O que tinha acontecido?

Eu sei que é um personagem que o Felipe interpreta, mas o resultado em mim não foi bom. Não era isso que eu imaginava que seria no final. Minha esposa, que curte os vídeos de Felipe também, olhou pra mim com a mesma cara de espanto.

Alguns colegas de dublagem vieram me perguntar o motivo de minha voz estar naquele vídeo, visivelmente incomodados, magoados com o resultado. Eles sabem que Felipe é um ator, que aquilo é um personagem, mas mesmo assim não gostaram, não entenderam a motivação, o porquê de ser daquela maneira. Como eu disse; um personagem pode provocar tanto emoções extremamente positivas quanto negativas e isso não somos nós que controlamos, muitas vezes.

Eu esperava que aquele vídeo fosse de outra forma, com uma outra abordagem, mais leve, brincando com os dubladores, falando sobre trabalhos que fizemos, comentando os erros de forma espirituosa, sugerindo algumas soluções para adaptações de texto, falando de Orlando Drummond, dos grandes mestres, dos seriados da TV (que eu sei que Felipe ama, assim como muitos de nós) dos desenhos clássicos e filmes dublados que ele gostava quando criança. Eu imaginava ele comentando da época que se assustava, por exemplo, com os monstros de algum seriado de super sentai japonês, falando sobre as vozes que fizeram parte de todo seu crescimento, de toda a sua infância, até hoje. Seria uma viagem no tempo bem gostosa, a gente poderia conhecer mais esse lado lúdico do Felipe, em meio a brincadeiras, muito humor, é claro.

Finalizando, eu quero que Felipe continue gravando sempre, se aprimorando cada vez mais, pois ele é um artista talentoso, que está buscando sua identidade, explorando seus caminhos.

E eu quero que ele entenda também, do fundo do coração, que isso que eu escrevi aqui é uma crítica construtiva de alguém que também é artista, de alguém que também é sensível e ama o que faz.

Um beijo ao Felipe e a todos, muito obrigado pela atenção;

Guilherme Briggs

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